quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

CHOROS NA PRAÇA

(Galvão/Paulo Robson de Souza)


Intérprete: Áttila Gomes




(CLIQUE NA IMAGEM PARA OUVIR)




É duro ver todo esse choro pelas praças:
A namorada chora o amor que terminou
O velho ipê vê os seus braços amputados 
E o coreto abandonado
Clama um tempo que passou.

Um chora as contas por pagar nessa dureza...

Uma mulher pranteia o filho que se foi
Tem, inclusive, o fazendeiro muito rico
Que nem sabe o que é penico
Mas chora a baixa do boi...

O pipoqueiro chora o milho derramado

E o pardal com frio e fome quer Piaf...
E o baiano com saudade da Bahia 
Ao comer comida “fria” 
Diz: Virgimaria! Aff!

O olho-gordo quer morrer pela vergonha

De ter caído na conversa do golpista...
A mulher triste chora por sua tristeza
Chora a pomba à impureza
E o cão, a perda das vistas...

                Com tanto choro pelas praças, venha, Música!

                Oh! Deusa Música com seu dom de tocar
                Os corações, trazendo a todos a esperança
                Nem que seja por um dia
                Pra que parem de chorar...

                Com este choro que não é choro de tristeza, não!

                A esperança nesta praça semear
                Onde há esperança brotarão muitos sorrisos:
                Nós tocamos com alegria
                Pra a alegria germinar...


Piano: Marcopolo Cerzósimo
Violão: Galvão
Clarinete: Matheus Coelho
Percussão: Áttila Gomes

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

IMPOSSÍVEL VIVER SÓ

Para Raquel Nicodemo, Chico, Calombenta, Beethoven e Gorda*


Quatro léguas caminhei
Quatro cantos palmilhei
Enfrentei grande calor
Feito pedra me escondi
Do bravo jaguarundi
Pra encontrar o meu amor.

(Refrão)
É impossível para a gente viver só
Viver sozinho, só viver e viver só
É bem pior, é bem pior...
É bem pior, é bem pior...


Fiquei todo estropiado
Ao vencer matos cerrados
Até cactos comi
Enfrentei botas com esporas
Para sermos sem demora
Um casal de jabutis...

(Refrão)

Hoje estou todo contente
Ela, toda previdente,
Enterrou o nosso amor.
Viva a reprodução!
Nossos filhos vêm do chão
Feito a mais bonita flor.

(Refrão)
 (da série Poesia Todo Dia - 22.9.2014)

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* Olá criançada! Fiz esta letra de música (dentro do gênero baião) depois de conhecer os filhotinhos de jabuti que que nasceram no sítio da menina Raquel, há uns seis anos, em São Carlos (SP).  É muito bonito ver os jabutizinhos saindo de ovos enterrados, tal como acontece com as tartarugas-marinhas!

Mas até hoje não sei quem é pai ou a mãe de quem (eram quatro jabutis: 
Chico, Calombenta, Beethoven e Gorda). Na dúvida, dediquei o baião a todos eles! 



domingo, 15 de janeiro de 2017

O CACHORRINHO PEIDÃO



O que este Ted tem de pequeno, tem de peidão. É cada pum fedorento que dá vontade de correr para lavar o nariz. Gases silenciosos soltos enquanto dorme: peidos rasteiros, é o que bem sabe fazer esse cãozinho disfarçadiço!

*   *   *

Se for verdade que o cão se parece com o dono, minha reputação está comprometida!

*   *   *

Ted me fez lembrar que bufa é sinônimo de peido, sendo o primeiro termo muito usado na Bahia. Desde criança acho esta palavra engraçada. Se não for onomatopeia, deveria sê-lo. Ô palavrinha que se parece com o que representa: buffff. Parece o fiofó assoviando. Daí a entender o porquê de camisa bufante ter este nome é um traque: parece quem tem gases infláveis dentro das mangas.
Adoro etimologia. Ela torna as palavras cheias de graça. Ou de gases, neste caso.


Paulo Robson de Souza 
12 e 13.4.2014 (da série Poesia Todo Dia!)


Ted "caçando" guruçá na praia de Barra do Sargi, Ilhéus, em 2013

COITADO!


– Alice, estou saindo de férias...
– Coitado!
– Alice, comprei um monte de doces pra gente!
– Coi-tado...
– Vou buscar o seu pagamento, Alice.
– Coita-do!
– Estou indo tomar um vinho na casa de amigos...
– Coi-ta-do!!

Nossa diarista tem este hábito engraçado de exclamar “coitado” diante de qualquer afirmativa, boa ou ruim. Penso que tal comportamento nada tenha a ver com a personagem Filó do humorístico da TV, mas ainda assim é uma graça! 
Não vejo a hora de ouvi-la soltar seu bordão após eu dizer algo como “ganhei na Mega-Sena”, “vou passar 15 dias percorrendo praias, vulcões inativos e florestas da Costa Rica”... Vai ser mais engraçado do que o dia em que o Arnildo me contou a origem etimológica da palavra coitado...



Paulo Robson de Souza - 16.5.14

SIM, VELHOS

 

Ontem recebi uma querida professora que há meses não via. Chegou com aquela alegria que só encontramos em apresentações dominicais de circo, prontamente retribuída com um abraço de quebrar clavícula. Envoltos em riso puro de 180 graus estavam jardins botânicos, impressões, maravilhas e decepções experimentadas na sua curta passagem por Londres.

Contou-me histórias incríveis. O que mais me impressionou, desse encontro cujo tempo de passagem se perdeu, foi sua crônica – sim, uma crônica oral – sobre o modo respeitoso de como os ingleses encaram e acolhem os velhos. Tivesse eu um gravador, teria uma crônica feitinha, pronta para publicar em seu nome, se me permitisse.

Tímida, mais recatada que ostra de ressurgência capixaba em dia de frio, só publica o necessário, não se expõe, não se entrega, não se dá o direito de mostrar o que lhe é mais humano.  Sabendo disso, a conversa acabou assim:

– Por que você não cria um blog? Sim, minha cara! Não é para você, para seu capricho e vaidade (que não tem), mas para contribuir para a evolução da humanidade. Sim, porque não há nada mais desrespeitoso à pessoa humana do que desprezar os idosos, tratar o velho como escória... Nos seus olhos, uma promessa de "vou pensar nisto com carinho, seu maluco".


Paulo Robson de Souza
20.5.14
(da série Poesia Todo Dia)

DELICIOSAS RECICLAGENS



Nossos pais sempre nos ensinaram a não desperdiçar comida. Que pecado, falavam, com tanta gente passando fome no mundo!

Carrego essa lição comigo desde sempre. Muito antes da reciclagem virar moda, lá estava eu transformando o arroz de ontem no delicioso bolinho de arroz quentinho, da hora; mais frequentemente, o arroz esquecido na geladeira é aquecido e reidratado no vapor da cuscuzeira, com um pouco de azeite, para esmaecer a lembrança do seu passado. Os talos de couve viram guloseimas depois de cozidos no vapor. Até bolo de banana com casca e tudo eu já fiz, resultando em uma “coisa” arroxeada mas gostosa e, logicamente, rica em fibras.

Leite azedo? Um pecado, jogá-lo fora. Cozido e coado em peneira fina, às vezes vira uma quase ricota em nossa casa, mas neste caso, pasta cheia de ervas, azeite e um pouco de pimenta calabresa. Asseguro: mais gostosa que o produto dos supermercados. O mais frequente, contudo, é virar doce de leite. Receita jamais repetida, vai à panela com o que tiver à mão: casca de limão, cravo, canela, ovo batido (para ficar com jeito de ambrosia), banana madura, pitada de sal, colherinha de manteiga... A graça está em perder horas e horas transformando meio litrinho de coalhada em um doce irreproduzível. O tempo gasto, o trabalho e o gás consumido não justificariam tamanha bagunça na cozinha, mas... Desperdiçar, jamais!

Paulo Robson de Souza 
15.5.2015

SE CORRER...



Invoquei meus anjos, rezei, me benzi três vezes, segui, enfrentei o medo que sempre exalou do semblante de uma pessoa dúbia e o sol nasceu em mim à plena luz do meio da tarde.



PRS 16.10.2014

ANTICRÔNICA


Ela me perguntou se tal bobagem entraria na crônica. Silêncio. Não, pensei, é muita bobagem para merecer uma linha de texto.


PRS 31.10.2014

O BUTIÁ DO JOÃO



Bateu ao portão, muito após o jantar, um sujeito magro, simples e querido. João. Há décadas nosso vizinho. Trouxe um potinho cheio de butiá, coquinho do Sul levemente azedo, gosto de infância da Beth.
Uma dádiva, ver o fruto do que foi plantado com tanto carinho e zelo há mais de dez anos. Esta ― disse-me ―, foi a segunda, porém a melhor produção. Não vejo a hora de Beth retornar de viagem de campo, e ver sua carinha de felicidade por presente tão imprevisível.


PRS 21.10.2014


                                                                                                                             (da série Poesia Todo Dia)