Entrevista que o autor deste blog deu ao Ziraldo, programa ABZ do Ziraldo, TV Brasil. Clique na foto e assista!

Em vez de baú, relativo à guarda de objetos caros e finos, caçuá, que me traz lembranças da infância e da poesia popular cantada nas feiras de Santana e de Conquista, na Bahia. O caçuá é ambulante, roceiro, de conteúdo discernível pelas frestas do seu trançado – seus cipós formam paredes quase diáfanas, revelando objetos que contam histórias, incitam sensações, reavivam memórias... Baú é aristocracia sobre cavalo branco. Prefiro os caminhos desbravados pelo jegue.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
(Entrevista à jornalista Carmen Cestari / TV Brasil Pantanal)
No programa Primeira Pessoa, a jornalista Carmen Cestari entrevista o autor deste blog.
O programa foi ao ar em abril de 2013, pela TV Brasil Pantanal.
Para assisti-lo, clique na imagem.
sábado, 1 de junho de 2013
A PINTORA DE CÉUS DE CACAU
Julho de 2005. Entrei naquela
igreja somente para ver o painel que Nice pintara em 1974. Lembro-me quando o
vi pela primeira vez, ainda garoto, olhos inundados pelo amarelo-limão e tramas
multicoloridas que vestiam a ampla parede do fundo do altar.
Um belo altar: não tinha imagens
de santos, nem velas, qualquer adereço
católico; no máximo uma cruz modesta me vem à lembrança. A obra de Nice lhe bastava, ornando-o de
alegria de tecido prometido para vestido de festa. Próprio de quem busca os
céus.
― Não, o painel não foi removido ―
disse-me a velhinha beata com cara de “por que todo este espanto?” ―; isto que
o senhor está vendo é parede de compensado, concluiu sem me explicar o porquê
do tapume.
Sabia que muitos dos católicos de
Linhares, desde a inauguração da igreja, implicavam com sua arquitetura modernista,
sua quase ausência de luxos, rococós, adornos sacros. Por causa das duas cunhas
idênticas apontando para o céu, construídas nos extremos da nave da igreja ― a
primeira, funcionando como torre frontal e a outra, cobrindo o altar ―,
apelidaram-na de “cama de Cristo”. Igreja tem que ter cara de igreja, diziam.
Como o pároco da Igrejinha da Pampulha diria a Juscelino e Niemayer na década
de 50.
Apontando-me os imensos anjos que
Nice pintara na parede interior,
sobre a porta de entrada ― uma Carmem Miranda e outras mulheres (anjos com
sexo, sim!) tocando instrumentos populares entre beija-flores, folhagem
densa e cacaueiros tomados de frutos ―, disparando o sotaque de imigrante
italiana a senhora me contou que este painel aí só não foi desmanchado porque o
filho da falecida pintora não deixou. Precisou entrar na justiça, o rapaz. A
Nice, coitada, morreu de paixão. Que há de se fazer, meu senhor?
Nice Nascimento. Uma pessoa doce que tive a honra de conhecer pessoalmente assim que me mudei para
Linhares. Anjo de traços afro-indígenas, pintora primitivista que obteve
reconhecimento em vida. Mulher ungida, Nice: nascida do Espírito Santo amém.
Morreu de desgosto, sentenciou a beata. Prefiro acreditar
que se juntou às mulheres-anjo que moram em sua obra e cantam para o Jesus Cristinho
dormir, pois desse éden tropical é mais fácil zelar pelas almas e intenções da
gente pequena.
__________________
Sobre Nice:
http://paixaocapixaba.com.br/?p=3692
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/Enc_Artistas/artistas_imp.cfm?cd_verbete=2886&imp=N&cd_idioma=28555
Entre Santos e frutos de ouro: Nice Nascimento Avanza, por Renata Bonfim http://www.letraefel.com/2008/08/nice-nascimento-avanza.html
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