quarta-feira, 5 de setembro de 2018

CIRANDINHA DA MARIPOSA




Autores: Adriano Praça (melodia) e 
Paulo Robson de Souza (letra). 
Intérpretes: Angélica Jado Chagas (solo), 
Mariana Arndt e Carol Marques (coro).




Tem bichos que dependem
muito dos cheiros que sentem.
O olfato para eles
é como os olhos da gente.

Nem todos têm nariz...
Para por fim ao problema
os insetos, por exemplo, 
sentem o cheiro nas antenas.

O “rei” em perceber
o cheiro (ou será fedor?)
tem um nome bem real: 
mariposa-imperador.

Se vai se acasalar
o macho sente a parceira
a duas léguas de distância
mesmo se pouco ela cheira.

Porque é preciso um par
para poder cirandar,
no céu, procurando a fêmea,
meia volta ele vai dar.


(clique na imagem para ouvir)



Do livro
Animais Mais Mais” — música, poesia e muito mais (com CD encartado)
Paulo Robson de Souza, Editora Sterna, 2011


A SEGUNDA MORTE DO CAVALO PANTANEIRO






Reprodução de imagem de vídeo





Triste incêndio.
Dos mais tristes que assisti.
Porque leva nacos do coração da gente, de tantas gentes, de tantas gerações
De tantos países…
Da “Eva brasileira” calcinada não falarei
(Pois Janet colheu palavras certeiras e límpidas
Para seu poema A Última Morte de Luzia).
Das libélulas do Luiz Onofre Irineu de Souza não falarei, para não sofrer mais.
Nem dos cocares
E outros objetos ameríndios pretéritos, irrecuperáveis.
Nem (falarei) da morte dos outros
20.000.000
Testemunhos materiais depositados no Museu Nacional.
Tesouros desses que o dinheiro não paga
Pois que eram parte da nossa história, dos nossos primeiros povos,
Eram marcas da evolução de nossos bichos e plantas,
Da nossa ciência;
Eram a cristalização, aos nossos olhos, do tal “valor incalculável”.  
Mas (de coração partido!) preciso falar do “meu” cavalinho.
Nosso Equus vandonni. O cavalo de Vandoni*.
Salvo alguma milagrosa providência que desconhecemos, também virou cinzas o único fóssil do que eu carinhosamente chamava (nas palestras para a criançada) de "o verdadeiro cavalo pantaneiro", já que esse “Écus” viveu há 18.000 anos ou mais, na região onde hoje se localiza Corumbá, enquanto que a raça “cavalo pantaneiro” é muito mais recente: descende de animais desgarrados das tropas trazidas pelos colonizadores espanhóis a Assunção.
O cavalo de Vandoni tinha quase o tamanho de uma capivara. Diferentemente dessa, imagino, devia ser colorido, saltitante e corredor, como (deveriam ser) todos de sua família.  Dele – e graças a ele – fiz poema dos mais queridos pelas crianças entre os do meu repertório, talvez até pelo título convidativo, Montando Versos.
Infelizmente, o único testemunho material que tínhamos desse cavalinho serelepe – um crânio tomado de inquietudes ferruginosas do rio Paraguai, de onde foi retirado em 1974 pelo pescador Jerônimo Borges dos Santos – e os demais itens agora calcinados, não eram meramente peças de museu. Eram sentimentos.
Da série Poesia Todo Dia!

Paulo Robson de Souza - 3.9.2018



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* Nome científico em homenagem ao Dr. Gabriel Vandoni de Barros, diretor do Museu Regional de Mato Grosso que doou o material descoberto ao Museu Nacional em dezembro de 1974, segundo a página Dinos Virtuais http://www.latec.ufrj.br/dinosvirtuais/catalogo/equus_vandonii.html