sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

JOGANDO VERSOS NO ENGENHO DE MAROMBA (dança de roda)


À folclorista Marlei Sigrist


[Alguém cantando ao longe, longe...]
     Como é bom fazer quadrinhas
     de cantigas populares...
     Jogar versos nesta roda
     disfarçando meus olhares.

[Menestrel falando, dando boas vindas...]
     Vamos fazer uns versinhos
     sem ter preocupação
     com a exatidão do metro...
     Falar pelo coração.

[Ela, tímida]
     Eu não sei fazer poemas,
     bordar folha igual saúva.
     Riscar verso é com as abelhas
     sobre as flores da piúva.

[Ele, introspectivo]
     Eu não sou grande poeta
     – eu lhe avisei também ―,
     grande é o sinimbu na piúva,
     tanta poesia tem.

[Ela, brincando]
     Você lembra um galo velho,
     nunca vi nada igual.
     Só que um galo bem bonito,
     cardeal-do-pantanal!

[Ele, retrucando]
     Você canta feito arara
     disso eu tenho certeza.
     Só que a mais azul das aves
     animando a natureza.

[Ela, provocando]
     Você canta feito grilo
     no calor... tão estridente!...
     Mas é um canto tão gostoso...
     Parte o coração da gente!

[Ele, todo dengoso]
     Você mais parece um bicho...
     É tão grande a semelhança...
     Uma oncinha de pelúcia
     abraçada a uma criança!

[Ela, terna e se declarando]
     Me olhando desse jeito,
     você lembra uma criança.
     Um bichinho bem bonito:
     um filhotinho de onça!

[Ele, apaixonadamente convencido]
     Encontrei um bilhetinho
     no anel de um periquito.
     “Quero ser sua namorada”
     era o que estava escrito!

[Menestrel, com cara de felicidade]
     Brincadeira que não finda,
     fazer versos de improviso!
     Verso dois rima com o quarto
     no compasso do sorriso...

[Alguém, suspirando]
     O engenho de maromba
     é um canto e uma despedida.
     Lembra um tuiuiú voando
     pelas passagens da vida.

[Alguém, já com saudade]
     Nesta quase despedida
     canto o engenho de maromba.
     Canto alegre do joão-pinto,
     canto triste de uma pomba...

[Menestrel, convidando o mundo inteiro]
     Se você for animado(a)
     continue a brincadeira.
     Faça um verso bem bonito
     sobre a fauna brasileira.
     (Mas não vá dizer besteira.)

[Alguém cantando longe daqui, feito Caetano Veloso]


(2001)

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