À folclorista Marlei Sigrist
[Alguém cantando ao
longe, longe...]
Como é bom fazer quadrinhas
de cantigas populares...
Jogar versos nesta roda
disfarçando meus olhares.
[Menestrel falando, dando boas vindas...]
Vamos fazer uns versinhos
sem ter preocupação
com a exatidão do metro...
Falar pelo coração.
[Ela, tímida]
Eu não sei fazer poemas,
bordar folha igual saúva.
Riscar verso é com as abelhas
sobre as flores da piúva.
[Ele, introspectivo]
Eu não sou grande poeta
– eu lhe avisei também ―,
grande é o sinimbu na piúva,
tanta poesia tem.
[Ela, brincando]
Você lembra um galo velho,
nunca vi nada igual.
Só que um galo bem bonito,
cardeal-do-pantanal!
[Ele, retrucando]
Você canta feito arara
disso eu tenho certeza.
Só que a mais azul das aves
animando a natureza.
[Ela, provocando]
Você canta feito grilo
no calor... tão estridente!...
Mas é um canto tão gostoso...
Parte o coração da gente!
[Ele, todo dengoso]
Você mais parece um bicho...
É tão grande a semelhança...
Uma oncinha de pelúcia
abraçada a uma criança!
[Ela, terna e se declarando]
Me olhando desse jeito,
você lembra uma criança.
Um bichinho bem bonito:
um filhotinho de onça!
[Ele, apaixonadamente convencido]
Encontrei um bilhetinho
no anel de um periquito.
“Quero ser sua namorada”
era o que estava escrito!
[Menestrel, com cara de felicidade]
Brincadeira que não finda,
fazer versos de improviso!
Verso dois rima com o quarto
no compasso do sorriso...
[Alguém, suspirando]
O engenho de maromba
é um canto e uma despedida.
Lembra um tuiuiú voando
pelas passagens da vida.
[Alguém, já com saudade]
Nesta quase despedida
canto o engenho de maromba.
Canto alegre do joão-pinto,
canto triste de uma pomba...
[Menestrel, convidando o mundo inteiro]
Se você for animado(a)
continue a brincadeira.
Faça um verso bem bonito
sobre a fauna brasileira.
(Mas não vá dizer besteira.)
[Alguém cantando longe daqui, feito Caetano Veloso]
(2001)
(2001)
Nenhum comentário:
Postar um comentário