NO MUNDO DA LUA (com fundo musical)

Era noite prateada.

Sobre o céu de algodão

São Jorge, do seu jumento

futucava o dragão.

Lua de Jobim, Caetano,

de Catulo da Paixão.

Juliana revirava

seus papéis de casamento.

Sua mão pegava folhas

do ano 1900!

Recordar o seu passado

era o maior passatempo.

Lembra do primeiro dia...

foi numa noite de lua.

Júlio chega acanhado,

diz "boa noite" da rua...

Depois cantam "...meu canto

contigo compactua..."

No segundo dia ele

leva flores e um bombom.

Depois cantam "Lua Bonita"

um pouco fora de tom.

Ele, bem timidamente

prova, dela, o batom.

No terceiro dia a  lua

passa pra fase minguante.

Juliana então se sente

cada vez mais palpitante.

Vêem o luar do Gil

se tornando ofegantes.

Na lua quarto minguante

quarto dia de namoro

eles se encontram num quarto

com quarto de hora, o choro.

Ela ali, feliz, e ele

se sentindo um calouro.

Quinto dia, a noite escura

bom pra semente crescer

esperam a lua crescente

cantando "Meu Bem Querer"

 esta não fala de lua

mas nos faz adormecer.

A lua, maior no sexto,

maior o ventre crescente.

Quando a lua é quase cheia

rompe a bolsa de água quente,

vindo à luz da lua um filho,

brilho de luz refringente.

No sétimo a lua é cheia

cantam o disco de Amelinha.

Por terem criado um mundo

descansam numa redinha

enquanto Mundinho brinca

 Mundinho, nossa estrelinha.

            * * *

Juliana – pah! – acorda

pra não morrer de saudade.

"...Quando à noite a lua amansa..."

canta de felicidade.

Beija a foto do amado

que partiu pra eternidade.

Ele foi morar na lua,

no Mar da Tranquilidade.

Mundinho foi ser um Fagner

botou o pé na estrada

manda bombons para a mãe

joga beijo à Prateada

(pois sabe que ali mora

uma pessoa amada).

Faz serenata com sua

viola enluarada.

Júlio vai bem, obrigado.

Manda abraços pela Apolo.

Sente saudades da vida,

da Juliana, dum colo...

Faz o fundo musical

pro filme em tecnicolor

"São Jorge Contra o Dragão"

cantando um belo solo.

(Do livro Quatro Cantos do Meu Mundo,  1984)