Quando encontrei no porão de casa um passarinho
Foi que percebi quando o bentevi não sabe cantar.
Dentro da gaiola a ternura escapa pelas taliscas
Pois o bentevi precisa do céu para se inspirar.
Seu Quelé cantou versos de reisado na Piabanha
E me fez dormir encostado ao forno de um fogão.
O seu corpo longo, sem jeito, rude e desajeitado
Guardava a pureza nas rachaduras da grande mão.
O seu Santo deu quinhentas pisadas no barro mole
Para construir a casa de varas no duro pó.
Ele fez ali uma parede imensa com os próprios dedos
E tudo guardei num retrato só, dos tempos de Vó.
(2005)
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