I - PARA TOMAR TERERÉ
Uma guampa artesanal,
água bem fria, erva-mate,
um tubinho de metal
e um amistoso debate.
II - ACREDITE SE QUISER
Sem querer, quando descia
o Miranda de chalana
escutei um desafio
entre dois peões bacanas
que tomavam tereré
sem tirar uma só pestana.
Vou contar só um tiquinho
do que ouvi em uma semana.
Leia e veja se é real
ou se é história insana:
— Enfrentei uma onça parda
perto do paratudal.
Eu nem queria mais briga
com o coitado do animal!
Rolamos a noite inteira
pelo vasto capinzal
que a parda ficou pintada
de tanto que passou mal.
Dei tantos tapas que a dita
foi-se dizendo... “miaaaaau!”.
— Comigo foi diferente:
à noite, montando guarda,
vi uma grande onça-pintada
vindo em minha retaguarda.
Num salto, me deu um tapa
que entortou minha espingarda.
Mas, como não sou do tipo
que logo se acovarda,
mordi tanto o rabo dela,
que a bichana ficou parda!
— Lá no capão onde moro
a terra é tão adubada
que — acredite — a melancia
é, toda, vitaminada.
Uva boa eu dou pros porcos
(vez em quando é rejeitada).
Laranja-azeda, a da terra,
de tão doce é enjoada.
O milho engasga as galinhas
e o coqueiro dá cocada.
— Já comigo é diferente.
Moro num ermo lugar
tão seco que nem vapor
o chão consegue sugar!
Nessa terra sem palmeiras
não canta nem sabiá.
Minha terra é tão fraquinha
que “em si plantando” não dá
nem um pé de tiririca
para a história contar.
— Saiba que o Morro do Azeite
tem esse nome porque
na Guerra do Paraguai,
para não esmorecer,
uma tropa da Bahia
trouxe tonéis de dendê?!
Fritou tanto acarajé
que fez o morro crescer.
De tanto azeite no morro,
ninguém sobe se chover...
— Essa história não é nada!
Urucum, a morraria
vermelha de Corumbá,
tem esse nome porque,
logo após a pescaria,
“seus” soldados do Azeite
(que, apressados, esqueceram
o corante na Bahia)
iam ao morro “colorau”
temperar as iguarias.
* *
*
— Acredite se quiser,
meu predileto compadre!,
É mais difícil mentir
que mostrar a realidade.
E para não estragar
nossa tão rara amizade
vamos parar por aqui
bem antes que seja tarde.
Nunca vi oitenta versos
sem um pingo de verdade!
— Isso mesmo, companheiro!
Chega desta brincadeira.
E antes que este tereré
dê a volta derradeira
e fique tão fraco quanto
minha terra sem palmeiras,
vou encerrar a conversa
com uma frase verdadeira:
nunca vi noventa versos
sobre noventa besteiras!
Que delícia, Paulo.
ResponderExcluirRevivi meus dias pantaneiros, minhas conversas e entrevistas com os peões, geralmente à tardinha, quando voltavam das vaquejadas.Mas, sem nenhuma sombra de dúvida, na fluidez desses versos cadenciados, ricos em sutilezas, as gostosas mentiras quase que esbarram em alguma verdade.
Parabéns...
Albana
Oi Albana, minha querida literata e professora, só agora vi esse seu comentário. Gratíssimo pela consideração e apreço ao humor. Abraço!
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