Sobre monografia* de Thaisa Bueno, a quem dedico.
I.
É um processo:
a luz refletida nos corpos
atravessa a curvilínea vidraça
e cai num quarto escuro e diminuto.
Numa fração de tempo menor que uma das letras da
[pequena sílaba dita pela cortina que se abre,
eis que o nitrato
— sal de prata deitado numa parede de acetato —
deixa-se banhar pela luz
e se transforma.
Ainda sensível à luz brincante que, insistente, ronda sua
casa,
é preciso frear suas emoções,
logo adiante reveladas.
II.
Diga-me num átimo:
há como deter o tempo
se o próprio tempo
é o artífice do processo?
Moléculas modificadas pelo beijo da luz
não são o tempo congelado:
são simplesmente sinais
de cor ou ausência de cor
grafados pelo tempo sem fim.
III.
Eis o retrato:
a mulher esguia e loura que fotografa me revela:
o fotografado
não é o ser
mas o que pretendia ser.
É, portanto, objeto abjeto,
papel cheio de intenções. E o cenário
é simplesmente um cenário
da caixa de um teatro.
Mentira ou ilusão?
Farsa ou fantasia?
IV.
O paradoxo:
a fotografia surge da reflexão de objetos
— matéria e espaços no tempo —
e só passa a existir se refletida.
Nasce e morre pela luz
— que é matéria, se transformada;
que é onda quando vagueia;
energia, na sinergia com o tempo
e caneta
para escrever photo
graphias.
Mas não há luz se não há matéria, espaço nem tempo.
Repito: como congelar espaços e tempos num papel
que nasce e morre pela luz?
Há tempo ou matéria na fotografia?
V.
A fotografia:
A cena que tento ver
é o que posso perceber.
Sem estar, sem ser, será:
não ser, não ver, não estar...
Paulo Robson de Souza
(junho de 2004)
(junho de 2004)
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(*) 2004 - Especialização em Imagem e Som
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Título: Olhares Interiores - uma análise dos álbuns de família.
Autora: Thaisa Cristina Bueno.
Orientadora: Marly Damus.
Sobre a foto:
(da direita para a esquerda) eu, meu pai Jaime e meus irmãos Welleson e Jairo, 1975.
Uau, que espetáculo de poema!
ResponderExcluirE a somar na minha graphia dessa fotopoema aqui grafada há o espaço tempo da Thaisa memória boa de ter mesmo sem ter.
Olá Fernando, grato pela consideração ao poema. Belas palavras!
ExcluirLindo! E você consegue escrever com as palavras do mesmo modo como escreve com a luz...tão belo.
ResponderExcluirOi Mari, só agora li seu comentário. Grato pelas palavras de carinho. Animadoras!
ExcluirFiquei encantada. É o relato da beleza do aprisionamento da luz no exato segundo que a photo graphia é registrada. Um poema fotográfico.
ResponderExcluirEugênia!!!!!!!!! Desculpe, vivo me perdendo nesse mar que é a net, só agora respondo ao seu comentário.
ExcluirGrato pela consideração de sempre!! Che bella!
Muito bom, as rimas são esparsas, não pesam tanto. Thaísa foi minha aluna, é uma pessoa e profissional de qualidade. Gostei do encontro.
ResponderExcluirAbração conimbricense pros dois.
Alda
Alda querida! Desculpe, me perdi na net, só agora lhe respondo.
ExcluirGratíssimo por sua consideração ao poema, um dos que mais gosto. Thais é uma pessoa incrível mesmo! E este trabalho de conclusão de curso (dela) foi muito bonito, inesquecível e... inspirador, e muito!
Grande abraço!