Ao poeta Sidnei Olivio
e ao poeta das artes visuais William Menkes
As canções estão soltas por aí –
diz o compositor pop.
Para apanhá-las, devo me soltar
também, como ave predadora.
“O Apanhador de Canções” parece
nome de filme. Mas é apenas uma intenção.
Aspiração de quem não sabe compor mas se vê compositor.
Preciso inventar um puçá que
apanhe mínimas, semínimas e outros sinais com jeito de borboleta.
* * *
Creia: já tive medo de inventar
canções, cantarolar alguma novidade. Medo de esquecer, desperdiçar inspiração.
Pois para eu, fazer canção é algo
muito raro e sublime. Hoje tenho certeza que não tenho esse pendor. Quanto mais
me convenci disto, mais perdi o medo de assobiar invencionices musicais. E não
é que, depois disso, as canções começaram a aparecer? Ruins, muito ruins – como
meus primeiros poemas. Esse é o meu consolo: talvez melhorem.
13/9/2005
* * *
O pianinho eletrônico de Mariana
dormiu por dez anos. Ontem coloquei pilha nova. O sono era profundo mas
consegui acordá-lo. Agora torço para que desperte em mim emoções que redundem
em alguma composição. Porque a que penso
que consegui fazer ontem, essa esqueci dez minutos depois. Pareceu-me bonita, a
danada.
20/9/2005
* * *
Hoje é início da primavera no
hemisfério sul. Porque a Terra já cursou ¾ da sua trajetória, os sabiás cantam
enlouquecidamente e esse vento chato não para de assobiar, pressinto que nos
próximos dias colherei alguma canção. Não por causa das flores – mero detalhe
neste contexto sazonal –, mas pelo princípio do fim do ano, quando me angustio
ao enxergar vazios dentro de mim.
Colher alguma canção... Assim
seja!, pois há dias que não consigo colher nada que preste desse teclado
sovina. Nenhuma palavra, nenhuma frase que mereça o consumo de alguns
nanogramas de memória.
23/9/2005
* * *
Depois que
se aprende que o andamento da música deriva do pulsar do coração, atente-se
para o emocional. Dizem que em dias de fossa canções são pegas mais facilmente.
* * *
Em dias de
chuva notas espargem de pingos, respingos e enxurradas. Uma sinfonia. Aquática.
* * *
Quanto
mais tento compor, mais percebo que não sirvo nem para crítico. Falta-me
acidez.
24/9/2005
* * *
Ops, há
mais de 40 dias não venho aqui nesse muro de lamentações de quem não sabe
compor. A novidade é que eu e Marco Antonio ganhamos um festival local com o
xote nordestino “Sabiá Laranjeira”. Como apanhador de sabiás ou de laranjas
devo ser ótimo ou, pelo menos, eficiente. Mas como apanhador de canções... Não
é que, uma semana depois, sequer classifiquei o reggae “Amazônia” no Festival
Universitário da UFMS? Eram apenas 72 músicas para classificar 22...
A inspiração vem de onde?
ResponderExcluirPergunta para mim alguém
Repondo talvez de longe
De avião barco ou bonde?
Do canto da cotovia
Vem do luar do sertão
Vem de uma noite fria
Vem olha só quem diria
Vem pelo raio e trovão
De onde vem a inspiração
Excluir― respondo à compositora
Do Pantanal, a cantora:
Nunca vem de supetão!
Sei que, em mim, toda canção
Vem de coisas pequeninas
Como um grilo na campina...
Ou, então, de um temporal,
Raios, aves, Pantanal
Refletidos na retina...
Às vezes, os meus destinos
São os cheiros da fazenda...
Os sabores da merenda
Dos meus tempos de menino.
Quase nunca é repentino
Meu desejo de criar:
Mesmo uma canção de ninar,
Preciso correr atrás
Da inspiração ― muito mais
Do que pode imaginar!
Cada vez melhor!!!!
ResponderExcluirPrecisamos compor mais, companheiro Eduardo! Apareça "pressas" bandas.
ResponderExcluirAbração.
Que honra, parceiro e amigo, obrigadíssimo!! Abraço.
ResponderExcluirSidnei
Que honra, amigo e parceiro. Grande abraço.
ResponderExcluirSidnei
É toda minha, Sidnei! Eternamente grato pela parceria e pela brincadeira/desafio que você me proporcionou, "poesia todo dia" -- nunca escrevi tanto como em 2005. (Repeti a dose, em 2014). Abração!
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