quarta-feira, 14 de maio de 2014

O METABOLISMO DAS COISAS VI – PEDRAS E PRAIAS




Hoje caminhei pela areia fofa e morna da praia. Exalava odores, evidência da atividade bacteriana transformando as coisas de comer e de beber retidas em seus poros.

Em um outdoor perto da praia, exposto um dos versos do famoso poema de Drummond, seccionado ao meio por foto de um granito bruto, campanha ou intervenção artística não assinada. O verso do verso: o reverso. O que o autor da peça pretende dizer com a palavra alheia?

Areia da praia, caminho longo que percorri com gosto. Areia é o fim de toda pedra que se expõe ao vento, à chuva, ao distender–contrair da matéria exposta aos caprichos da temperatura, pedra que acata o romper das amarras que oprimem átomos indomáveis. Se no meio do caminho do poeta havia uma pedra, o tempo dirá que tal pedra se tornará um caminho. Tempo longo, geológico, é verdade; tempo que não veremos. Mas imperativo: toda pedra será caminho, se exposta às intempéries.

No meio do caminho, e em todo ele, havia rocha em pó, diria um poeta geólogo com saudades do mar... enquanto os imensos penedos que fecham os caminhos de Minas sonham em ser praia...

Paulo Robson de Souza
Ilhéus, 8.5.14

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