Nossos pais sempre nos ensinaram a
não desperdiçar comida. Que pecado, falavam, com tanta gente passando fome no
mundo!
Carrego essa lição comigo desde
sempre. Muito antes da reciclagem virar moda, lá estava eu transformando o
arroz de ontem no delicioso bolinho de arroz quentinho, da hora; mais
frequentemente, o arroz esquecido na geladeira é aquecido e reidratado no vapor
da cuscuzeira, com um pouco de azeite, para esmaecer a lembrança do seu
passado. Os talos de couve viram guloseimas depois de cozidos no vapor. Até
bolo de banana com casca e tudo eu já fiz, resultando em uma “coisa” arroxeada
mas gostosa e, logicamente, rica em fibras.
Leite azedo? Um pecado, jogá-lo
fora. Cozido e coado em peneira fina, às vezes vira uma quase ricota em nossa
casa, mas neste caso, pasta cheia de ervas, azeite e um pouco de pimenta
calabresa. Asseguro: mais gostosa que o produto dos supermercados. O mais
frequente, contudo, é virar doce de leite. Receita jamais repetida, vai à
panela com o que tiver à mão: casca de limão, cravo, canela, ovo batido (para
ficar com jeito de ambrosia), banana madura, pitada de sal, colherinha de
manteiga... A graça está em perder horas e horas transformando meio litrinho de
coalhada em um doce irreproduzível. O tempo gasto, o trabalho e o gás consumido
não justificariam tamanha bagunça na cozinha, mas... Desperdiçar, jamais!
Paulo Robson de Souza
15.5.2015
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