Em vez de baú, relativo à guarda de objetos caros e finos, caçuá, que me traz lembranças da infância e da poesia popular cantada nas feiras de Santana e de Conquista, na Bahia. O caçuá é ambulante, roceiro, de conteúdo discernível pelas frestas do seu trançado – seus cipós formam paredes quase diáfanas, revelando objetos que contam histórias, incitam sensações, reavivam memórias... Baú é aristocracia sobre cavalo branco. Prefiro os caminhos desbravados pelo jegue.
terça-feira, 18 de julho de 2017
VITÓRIA-RÉGIA
“Uma flor é uma flor,
uma rosa é uma rosa”
mas a vitória rosa
é régia.
Uma flor que um dia é branca
feminina flor
refletindo a luz do dia.
Masculina flor noturna
agora é rosa
como o fim da tarde
de uma longa espera.
Regendo o tempo,
o fluxo do rio...
— Determina as cheias
ou a cheia lhe insemina?
Uma flor que me ensina
que o branco
contém o rosa
e todas as cores do dia.
Que a noite
contém o dia.
Uma flor que é menina
e menino brincando n’água.
(Do livro Síntese de Poesia, Paulo Robson de Souza, 2006)
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Com folhas circulares flutuantes que chegam a ultrapassar dois metros de diâmetro, a vitória-régia é a maior planta aquática do mundo. O nome científico, Victoria amazonica, é uma homenagem à rainha Vitória, da Inglaterra, e porque a planta é típica da Amazônia ― embora ocorra também na porção norte do rio Paraguai, até o município de Corumbá, MS, onde a foto abaixo foi feita.
Dependendo da região, os ribeirinhos a conhecem por aguapé-açu (do tupi, aguapé grande), forno-d'água e milho-d'água, porque produz sementes arredondadas, comestíveis, ricas em amido que lembram milho de pipoca; e cará-d'água, porque tem um rizoma comestível que lembra o cará (é quase do tamanho de uma bola de futebol e possui reservas nutritivas que permitem à planta rebrotar após o período de seca).
Embora seja monoica, ou seja, possua os dois sexos no mesmo indivíduo, para evitar a autofecundação as partes femininas localizadas na flor tornam-se férteis uma noite antes das masculinas; nesta fase inicial, feminina, as pétalas têm coloração branco-creme, e na noite seguinte, a fase masculina, as pétalas ficam róseas.
A fecundação é um fenômeno muito curioso, do ponto de vista ecológico: ela é feita por um besouro amarelado (Cyclocephala castanea) que, ao comer as partes florais, leva o pólen das partes masculinas de uma flor velha (foto) para as estruturas femininas da flor recém aberta, realizando a polinização. Mas quando ele visita a flor recém aberta (feminina), esta se fecha e o besouro fica aprisionado até o outro dia.
Embora aparente ser totalmente flutuante, a vitória-régia é fixa ao substrato: suas gigantes folhas são, na verdade, sustentadas por um longo pecíolo cujo comprimento aumenta à medida que o nível da água sobe, uma adaptação à alternância de ciclos de cheia e seca.
Saiba mais:
Plantas Aquáticas do Pantanal, livro de Vali Joana Pott e Arnildo Pott (Embrapa, 2000)
e artigo
Morfologia da flor, fruto e plântula de Victoria amazonica (Poepp.) J.C. Sowerby (Nymphaeaceae), de Rosa-Osman et al, 2011 (cliqu no link para acessá-lo).
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