Ao poeta Sidnei Olívio
Há vazios na mais densa matéria.
* * *
O tempo que se vê já passou.
* * *
O fim de toda estrada
é a partida.
* * *
O nada não é, nada,
absoluto.
* * *
Desde o dia que nascemos
morremos mais um pouco.
* * *
A eternidade é uma porta emperrada
que guarda o silêncio
e dá para o nada.
* * *
A morte não é passagem:
é compostagem.
* * *
Desde o princípio bebo manhãs porque me faltam madrugadas.
* * *
O oco é o justo descanso
da matéria dura, densa
como se pluma de ganso
sobre a água morna, tensa.
* * *
Mesmo na matéria quente,
densa, viva ou encorpada
há vazios persistentes
lembrando que o tudo é... nada.
* * *
Ei, você, não se apoquente,
não se prenda ao que passou ―
o passado é o presente
que se deteriorou.
* * *
Chegar é o sonho da estrada.
O fim-de-estrada é partida.
A vida é negar o nada.
O fim da morte é a vida.
* * *
Viver é negar o nada
postergando a despedida.
A morte é uma curta estrada
― pausa pra novas partidas.
* * *
Existem ocos sensíveis
no mais denso dos xilemas,
como há versos invisíveis
nos espaços dos poemas.
* * *
Há rimas mal disfarçadas,
há luzes pouco visíveis
no escuro quadro sensível,
no puro branco do verso.
(janeiro de 2005)
Adorei esse poema, Paulinho! Que sensibilidade para falar da vida e da morte!! E que sabedoria para citar aspectos biológicos com toques de poesia. Só você mesmo para ter tanta inspiração... Abç
ResponderExcluirGrande Karina! Abração. Grato pela consideração aos meus escritos!!
ExcluirGrande parceiro. Honra minha ter esses poemas dedicados. Muito obrigado e um abraço.
ResponderExcluirGrande e sábio poeta! Que bom que acolheu este trabalho. Filosofices nascidas do coração. Grande abraço!
Excluir