Composição:
Béko Santanegra
Paulo Robson de Souza
Em vez de baú, relativo à guarda de objetos caros e finos, caçuá, que me traz lembranças da infância e da poesia popular cantada nas feiras de Santana e de Conquista, na Bahia. O caçuá é ambulante, roceiro, de conteúdo discernível pelas frestas do seu trançado – seus cipós formam paredes quase diáfanas, revelando objetos que contam histórias, incitam sensações, reavivam memórias... Baú é aristocracia sobre cavalo branco. Prefiro os caminhos desbravados pelo jegue.
Minha declaração de amor, em forma de música, aos cachorrinhos da nossa família (alguns, in memoriam). Álbum lançado em 3 de março em todas as plataformas de música. São 12 histórias reais* e oito participações mais que especiais (capa).
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"Reisado" faz parte do álbum "Pacíficas", homenagem a um dos maiores compositores da música caipira do Brasil, João Pacífico (1909-1998), cuja discografia e seu jeito de compor foram, em parte, revisitados no country estilizado "Naquela Mesa Caipira". O álbum também faz uma releitura do seu maior sucesso, "Cabocla Tereza" (1940), desta vez com um final feliz para uma das personagens mais famosas do nosso cancioneiro (confira "A outra Cabocla Tereza").
"Pacíficas" tem a participação especial do compositor cientista social Eduardo Ramirez Meza (intérprete de "A outra Cabocla Tereza") e do músico e produtor Béko Santanegra ("Reisado"). Ao todo são sete composições que mostram, com muita leveza, o universo rural "de um tempo sem televisão", como diz a faixa autobiográfica "Reflexos (O Menino no Espelho)".
Homenagem a um dos maiores compositores da música caipira do Brasil, João Pacífico (1909-1998), cuja discografia e seu jeito de compor foram, em parte, revisitados no country estilizado "Naquela Mesa Caipira". O álbum também faz uma releitura do seu maior sucesso, "Cabocla Tereza" (1940), desta vez com um final feliz para uma das personagens mais famosas do nosso cancioneiro (confira "A outra Cabocla Tereza").
"Pacíficas" tem a participação especial do compositor cientista social Eduardo Ramirez Meza (intérprete de "A outra Cabocla Tereza") e do músico e produtor Béko Santanegra ("Reizado"). Ao todo são sete composições que mostram, com muita leveza, o universo rural "de um tempo sem televisão", como diz a faixa autobiográfica "O Menino no Espelho".
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Melodia e letra: Paulo Robson de Souza
Versão para o inglês: prof. Jorge Augusto Santos
Melodia e letra: Paulo Robson de Souza
Intérprete: Joice Terra
Ri o chão quando a chuva vem
É tempo de cheirar o manacá
Flor lilás: canela-de-ema
Chocando o fogo sobre a pedra azul.
Flor azul e diamantina
Chapada da vertigem de mirar
Flor do céu, ai que vontade
De subir a serra e lhe cheirar
E a flor mimo-do-céu
Pétalas cor de anil
Feito seda de papel (papel de seda, sei lá...)
É mimo do céu
Flor do céu na serra, vamos lá!
Gervão-azul, Vellozia e cunhã,
Genlisea, Commelina e cainaninha,
Gengibre-azul: de marear a íris...
Ruélia pega-pega o azul do céu...
A orquídea Adamantinia, Lobelia e bela-emília: tão azuis...
Flor do céu, ai que vontade
De subir a serra e lhe cheirar
E a flor mimo-do-céu
Pétalas cor de anil
Feito seda de papel (papel de seda, sei lá...)
É mimo do céu
Flor do céu na serra, vamos lá!
* * *
Flores do céu!
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Créditos:
Harmonização e consultoria de edição de áudio:
Mestre Galvão (in memoriam)
I
Andei uns
tempos pensando
No porquê dos animais.
Mesmo que não
haja dúvida,
Perguntar
nunca é demais:
― O que seria
dos bichos
Se não fossem
os vegetais?
Animal tem
atitude,
Animal faz
umas gracinhas,
Faz dengo,
caras e bocas,
Dá medo, nos
faz cosquinha...
Está sempre
na “telona”
E muito mais
na “telinha”.
Animal dá
mais ibope
Nos programas
de TV
Dá movimento
ao cinema
Faz a gente
se entreter.
Mas todo
bicho depende
Das plantas
para viver.
Sem o cacto
no deserto,
Sem o tronco
no cerrado,
Sem a mata a
proteger
Bicho peludo
ou penado,
Nenhum vai
sobreviver:
O nambu fica
pelado,
A araponga
vira um sino
Que diz “tou
to-do... fer-ra-do”
A preguiça é
presa fácil
Urutau é
encontrado
O mico-leão é
presa ―
Saboroso alvo
dourado.
Mesmo estando
em campo aberto
O capim
disfarça bem
Tantos outros
― mais de cem.
No cerrado
até a onça
Tem a cor que
lhe convém.
Milhares de
animais
Usam a
madeira caída
Para botar os
seus ovos
Ou para curar
feridas.
O que
aparenta estar morto,
Vive “assim”,
cheio de vida!
No seu ventre
frio, inerme,
Abriga o
tronco cansado
Insetos,
aranhas, vermes,
E outros
invertebrados...
Vivem também
no seu cerne
O melete
desdentado,
Pica-paus,
serpentes prenhes,
O felino machucado.
Dentro d’água
é a mesma coisa:
Guardam os
galhos encurvados
Sucuris
engravidadas,
Rãs,
jacarés-coroados,
Posturas
feitas com as cores
Com que o
mundo foi criado.
II
Toda planta é
pão, sustento
Dos
invisíveis bichinhos,
Do ratinho e
do leão,
Dos
insetos... Do peixinho
Ao gigante tubarão...
Da avestruz aos passarinhos.
Toda planta é
pão, sustento
De todos, de
alguma forma.
Mesmo o maior
carniceiro:
Quando a
presa, em si, deforma,
Mostra a
origem vegetal...
Isso é lei.
Isso é a norma.
Pois se
planta não servisse
Não haveria
serpentes,
A seriema, o
furão,
Os vários
gatos-do-mato,
E, mesmo a
madeira podre,
É precioso
maná
De milhares
de insetos,
E
micróbios... adubando
O que há por
germinar,
E verdejando
as verduras
Dos lambaris,
da preá.
Não soubesse
o vegetal
Dar sustento
aos lambaris
Não haveria
desovas,
Um festival
de piranhas,
Sem algas
pros acaris
Os rios
seriam mortos,
Os mares
também seriam
Para tristeza
dos portos.
E, não
havendo poesia,
Os versos
seriam tortos.
Abro aqui grande parêntesis:
Até certos
minerais
Deixariam de
existir:
O carvão de pedra, mais
Que do chão
velho se extraem
São fósseis
de antigas plantas
De milhões de
anos atrás.
― Mesmo o ar
que inspiramos
Era muito
diferente
Coberto de
lava quente.
Das primeiras
algas veio
O oxigênio da
gente!
― Muitas
vezes a paisagem
É a obra acabada
De mil anos
de labor
Da matéria
vegetada.
Todo um morro construído
Por plantas
acumuladas!
― Não há
solos se não há
Vida em meio
aos minerais.
E os microsseres dependem
Dos pedaços
vegetais.
Os solos onde
pisamos
Já foram
verdes trigais.
― E certas
plantas, com o tempo
Decalcam um rastro
rosado
No material
das penas
Ao comerem
uns caranguejos,
Fica mais
vermelho o íbis,
Fica rosa o
colhereiro,
Ao comerem
esses bichinhos
Pigmentados,
do atoleiro,
Que consomem
algas vermelhas
Desse
hidratado canteiro.
― Antes de
Einstein descobrir
Que energia
dá matéria
Os vegetais
já sabiam
Fazer coisas
bem mais sérias:
Transformar
luz em comida,
Diminuindo a
miséria.
Quando a luz
se fez matéria ―
A glicose
acumulada
Por meio da
fotossíntese
Nas sedes
clorofiladas ―
É que foi
possível ter
O reino da
bicharada.
As plantas
deixam seu rastro
Na comida do
leão
Pois o reles
gás carbônico
Que sai da
respiração
No verdor da
clorofila
Sofre uma
transformação.
E seu átomo
de carbono
Com a energia
solar
Compõe a doce
glicose
Que depois se
ajuntará
Para formar o
amido,
Que outro
produto será.
Ao comer o
vegetal,
Preás, ratos,
ruminantes
Reconstroem,
com o carbono,
Tecidos
energizantes
E os que irão
construir
Fortes corpos
ambulantes.
Por fim, será
do leão,
Via
presas/predadores,
O carbono
transformado
Em carnes de
mil sabores...
Toda energia
e matéria
Para os
consumidores.
Enfim, todo
ser vivente
Deixa um
rastro vegetal:
O carbono é o
tijolo
Da pirâmide vital.
Há um hálito
de planta
No “rei” do
mundo animal
Que devolve
para o mundo
Seu carbono
corporal
Quando,
satisfeito, expira,
E no suspiro
final.
― Ah, se
planta não soubesse
Transformar a
luz solar
O vasto Reino
Animal
Deixaria de
se fartar...
― Nem sequer
papel teria
Pra estes
versos eu botar.
E para
finalizar
O parêntesis
sonífero,
É bom lembrar
que “animal”
Não é só
“grande mamífero”:
O reino
inclui uns milhões
De microsseres
prolíferos.)
III
Retomando o
trilho, rumo
À questão
inicial,
É preciso uma
resposta
Para se ter o
final.
Mas não há
fim nessa história:
Não há
tristeza nem glória,
Pois não há Reino Animal,
Nem os reinos
Fungi ou Plantae:
As bactérias
adoram
A fresca
sombra das plantas.
Para os
fungos, os vegetais ―
E, também, os
animais ―
São seu
almoço, sua janta.
E os arteiros
animais?
Nem é preciso
dizer!
As plantas
precisam deles
E eles não
sabem viver
Sem esse
verde cheirinho,
Esse rico
temperinho,
Esse eterno
florescer.
IV
Ninguém é rei
de ninguém!
Há de findar
os reinados.
Dá uma flor
pra mim, tem dó
Desse poeta
enrolado!
Dá em forma
de sorriso
(Esse carinho
preciso)
― Pra que eu
me sinta agraciado neste verso
[de pé
quebrado.
Paulo Robson de Souza
― Lucimara aqui é o Paulo Robson como vai você tem um tempinho para me atender estou no Sul não estou conseguindo sacar dinheiro o cartão está bloqueado ― falei assim de supetão, vício do tempo da ficha telefônica, em que um ponto de interrogação determinava ou não a interrupção da conversa (não pela interrogação em si, mas pela resposta que se sucederia à pergunta).
― Professor, o senhor terá de esperar o banco abrir, na segunda... ― falou-me ao celular uma voz doce e calma de gerente atenciosa, jeito de quem acabara de acordar e não acreditava no que estava ouvindo. Pego de surpresa pela impropriedade da ligação, devolvi a gentileza com uma saraivada de mil perdões ai que vergonha meu deus sou perdido no tempo jura que hoje não é sexta-feira desculpe desculpe desculpe ai que vergonha bom final de semana pra você e sua família. E desliguei rapidinho (a ficha caiu).
01.3.14
Paulo Robson de Souza
Da série Poesia todo dia! (Edição 2014)