Ter a consciência do próprio corpo, de modo tão racional,
não é bom pra mente. Não sabê-lo causa menos dor.
* * *
Definitivamente, um abraço é melhor que um amasso.
Principalmente um abraço de seis meses de atraso ante o amasso de ontem.
* * *
Não, não é poesia: ouço o meu coração cada vez mais. Coisa
de biólogo metido a besta que desenvolveu o sentido de se auto-auscultar. Ou de
poeta cansado.
* * *
Pimenta, mesmo no fiofó dos outros, arde meus olhos.
Desgraça alheia não tem graça nem rima bem.
* * *
Quando minha amiga nipônica me abraçou hoje, perdi meu
oriente.
* * *
Ninguém me contou, nem eu mesmo a mim ― pode isso, Fernando?
―, mas estou desconfiado que a poesia é meu projeto de fuga.
* * *
Devo ter um nervo ligando o queixo diretamente ao estômago,
pois a cada soco do dia o reflexo é imediato: da mucosa jorra ácido clorídrico
de balde. E, também numa infeliz associação direta, debalde como folhas de
boldo.
* * *
De tão estressado, até toque de telefone me embrulha o
estômago e para a respiração. Tou pensando em romper ligações. Principalmente
com o nervo vago.
6 de junho de 2005
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