sábado, 24 de novembro de 2012

EUTANÁSIA (morte serena)




Para Cristiane



Numa tarde, sem palavras
Prostrou-se em nosso portão
Descabelada, sem luz,
Com sede e fome de cão.
Deitou-se toda espichada
Nos pedindo compaixão.

Minha filha, a menorzinha,
Deu-lhe da melhor comida.
Com um afago na cabeça
Água fresca foi servida.
Sem querer, lhe deu as chaves
Para entrar nas nossas vidas.

De manhã lá estava ela:
Cara de bebê carente
Aguardando um só sinal
Para se enrolar na gente.
Ao abrirmos o portão,
Entrou louca de contente.

(Chegou em casa velhinha,
Mas com alma de menina.
Devia ser de uma casa
Abastada, bem grã-fina
Pois sofreu uma cirurgia
E suas maneiras, finas.)

Com poucas horas passadas
Conquistou seu próprio trono,
Demarcou seu território
E recuperou seu sono.
Agora tinha uma família,
Um nome, uma casa e um dono.

Tita, linda desde então,
Foi cada vez mais amada.
E quanto mais a amávamos,
Mais nos era revelada
A grandeza do seu ser
E a sua mente educada.

Se deitado no sofá
Com as mãos pênseis, dormentes,
Tita, querendo um carinho,
Enfiava docemente
O nariz úmido e frio
Por baixo da mão da gente.
Eu, tirando uma pestana...
Ela, ali... toda contente...

Foi a maior caçadora
De ratos que conheci.
Não pegava um só bichinho,
Mas como me diverti
No dia em que lhe ensinei
Contra os ratos investir.

Por isso vivia gemendo
Para subir no depósito
Improvisado na laje
(Aparente despropósito).
Farejava e... nada, nada!
Mas valia o seu propósito.

Quando vinha do trabalho,
Ela mostrava a barriga
Ao se deitar aos meus pés
Pra eu coçar-lhe a bexiga.
Dizia: “grande menina,
Minha cachorrinha amiga”.
Ao afagar seu cansaço,
Findava a minha fadiga.

Era a grande companheira
Sem nada querer comigo.
Só com ela descobri―
Sem pestanejar lhes digo ―
O valor daquele título
“O nosso maior amigo”.

Quantos anos se passaram
Desde que Tita chegou?
Quantas idas ao Cerrado
Tão feliz participou?
O quanto meus filhos riram?
Quantos anos me ajudou?

O cão é ― e sempre foi ―
Um amigo no comando.
O ser despretensioso
Que ao seu lado vem andando
Até na hora da morte,
Da sua morte chegando.


                                 * * *


Foi numa tarde. Estranhei,
Ao lhe banhar no quintal,
Escaras e unhas grandes.
No canino hospital
A veterinária disse:
― Sua cadela está mal,

Pois tem leishmaniose,
A do tipo visceral.
― Vai lhe corroer por dentro,
Mesmo sem nos dar sinal.
Como está, não tem remédio.
Logo vem o seu final.

― Não será um fim qualquer:
Terá muito sofrimento,
Órgãos internos doídos,
Pelos fracos, sangramentos,
Muito tempo sem comer...
Nas ancas, um caimento...

Ao dizer isso, pensei
Nos cachorros dos vizinhos,
Logo mais, contaminados
Pelo magro mosquitinho
Que carrega os parasitas
Que estão no ser que acarinho!

E também pensei em Tita,
No sofrimento eminente.
Como então ser egoísta?
Com a doença, conivente?
Concordei com o sacrifício
Desculpando-me à doente.

Eu não teria outra escolha:
Se há verdadeiro amor ―
Por Deus! ―, serei decidido, 
Mesmo ao decidir com dor.
Após ter nos despedido,
Pedi licença ao Senhor,

E, ante um mal alastrante,
Um estrago bem maior,
Recebeu tranquilizante,
Anestésico, o melhor...
Morreu dormindo, sem dor ―
Poderia ser pior.

Dormiu sob minhas mãos
Pra sempre, sendo ninada...
A veterinária foi
Hábil na sua empreitada. 
E eu, não sei de onde tanta
Coragem foi retirada.

Desde então choro por dentro
A partida do meu cão
Que mais parecia gente,
Que mais parecia irmão.
Por fora sou aço puro.
Por dentro, só...


                               solidão.




(Do livro O casamento dos buritis e outros cordéis, de Paulo Robson de Souza, 2005)


Tita abraçada a Mariana, 2002



terça-feira, 20 de novembro de 2012

O REI DO RIO




Reflete
a luz
da prata
do rio
no corpo
do peixe
que passa
esguio.



       






Desse corpo, o mais lindo dourado
metálico, precioso,
bebo com meus olhos
secos de luz
de pobre desajeitado
mergulhador.



__________

Do livro Poesia Animal (2003, Editora UFMS), com Sidnei Olívio 

sábado, 17 de novembro de 2012

MEU PÉ DE LARANJA LIMA... DO MANGUE

Manguezal de Ilhéus ao pôr-do-sol. Foto: Paulo Robson de Souza



Esta moda aconteceu
entre a Ilha das Caieiras
e o importante manguezal
que margeia  Goiabeiras,
na cidade de Vitória
onde hábeis paneleiras
pintam suas obras de barro
com corante de primeira.
Não sei se vi ou senti 
esta história verdadeira.

Um canoeiro se enfiou
entre as raízes magrelas
pra pegar casca de mangue
para deixar as panelas
recém-saídas do fogo
negras, bronzeadas, belas.
Repetia assim o gesto
das primeiras caravelas
derrubando o pau-brasil
em troca de bagatelas.

Sem sequer pedir licença,
com um porrete macetava
um sofrido  pé de mangue −
que cuidados inspirava.
A vermelha e fina casca
parecia que sangrava.
Machucava a coitadinha
toda vez que precisava
não se importando se a árvore
logo se recuperava.

Em silêncio o mangue ouvia
uns sons distantes, bonitos –
atabaques e casacas,
chocalhos, palmas e apitos –
congadas que davam graças
ao mouro São Benedito.
Junto ao som das porretadas
e o som doído, aflito
do seu sangue vegetal –
quem ouviria o seu grito?

Feito a famosa história
“Meu Pé de Laranja Lima”
o mangue falou gemendo:
— Assim você me dizima!
Vê se aprende a respeitar
a rara matéria-prima.
Se me der algum cuidado
e um prazo que não me oprima
sobrarão galões de tinta
pra pintar uma obra-prima!

— Sobrará mais energia
para eu fabricar comida
para camarões e peixes
que no alto-mar residam,
berbigão e  o caranguejo
que deixam a gente nutrida.
— Todo o manguezal é creche
que sempre dará guarida
para toda a filhotada
da rica teia da vida.

— E se o bom fruto do mar
vira a mais fina comida
dê graças à energia
dessa seiva colorida
e às raízes que me escoram
e que lhe dão acolhida.
— É por isso que lhe digo:
se romper uns fios, na lida,
deixe a teia, meu caboclo,
sou a Árvore da Vida!

Ao ouvir esse lamento
o caboclo compreendeu
que quem destrói seu sustento
cospe em prato que comeu,
mata o futuro e o presente
vira peça de museu.
E que o mangue é a obra-prima
que a natureza nos deu.
E tudo o que foi contado...

...foi o que aconteceu.



Do livro
Síntese de Poesia (Paulo Robson de Souza, Editora UFMS, 2006)



domingo, 11 de novembro de 2012

ARARA AZUL (com Dino Rocha)





Vídeo publicado em 01/08/2012 por Fernando Henrique Rocha Fontoura
com imagens do filme "O Mistério de Santa Luzia", de Sérgio Roizenblit
Música: Arara Azul, com o mestre chamamezeiro Dino Rocha
Poema (excerto): Das cores da arara-azul fez-se o verbo, de Paulo Robson de Souza
Declamação: Aurélio Miranda

Conheça a íntegra do cordel "Das cores da arara-azul..." clicando aqui:
http://paulorobsondesouza.blogspot.com.br/2012/08/das-cores-da-arara-azul-fez-se-o-verbo.html

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O APANHADOR DE CANÇÕES



Ao poeta Sidnei Olivio
e ao poeta das artes visuais  William Menkes



As canções estão soltas por aí – diz o compositor pop.
Para apanhá-las, devo me soltar também, como ave predadora.
“O Apanhador de Canções” parece nome de filme. Mas é apenas uma intenção.  Aspiração de quem não sabe compor mas se vê compositor.
Preciso inventar um puçá que apanhe mínimas, semínimas e outros sinais com jeito de borboleta.
*   *   *
Creia: já tive medo de inventar canções, cantarolar alguma novidade. Medo de esquecer, desperdiçar inspiração.
Pois para eu, fazer canção é algo muito raro e sublime. Hoje tenho certeza que não tenho esse pendor. Quanto mais me convenci disto, mais perdi o medo de assobiar invencionices musicais. E não é que, depois disso, as canções começaram a aparecer? Ruins, muito ruins – como meus primeiros poemas. Esse é o meu consolo: talvez melhorem.
13/9/2005
*   *   *
O pianinho eletrônico de Mariana dormiu por dez anos. Ontem coloquei pilha nova. O sono era profundo mas consegui acordá-lo. Agora torço para que desperte em mim emoções que redundem em alguma composição.  Porque a que penso que consegui fazer ontem, essa esqueci dez minutos depois. Pareceu-me bonita, a danada.
20/9/2005
*   *   *
Hoje é início da primavera no hemisfério sul. Porque a Terra já cursou ¾ da sua trajetória, os sabiás cantam enlouquecidamente e esse vento chato não para de assobiar, pressinto que nos próximos dias colherei alguma canção. Não por causa das flores – mero detalhe neste contexto sazonal –, mas pelo princípio do fim do ano, quando me angustio ao enxergar vazios dentro de mim.
Colher alguma canção... Assim seja!, pois há dias que não consigo colher nada que preste desse teclado sovina. Nenhuma palavra, nenhuma frase que mereça o consumo de alguns nanogramas de memória.
23/9/2005
*   *   *
Depois que se aprende que o andamento da música deriva do pulsar do coração, atente-se para o emocional. Dizem que em dias de fossa canções são pegas mais facilmente.
*   *   *
Em dias de chuva notas espargem de pingos, respingos e enxurradas. Uma sinfonia. Aquática.
*   *   *
Quanto mais tento compor, mais percebo que não sirvo nem para crítico. Falta-me acidez.
24/9/2005
*   *   *
Ops, há mais de 40 dias não venho aqui nesse muro de lamentações de quem não sabe compor. A novidade é que eu e Marco Antonio ganhamos um festival local com o xote nordestino “Sabiá Laranjeira”. Como apanhador de sabiás ou de laranjas devo ser ótimo ou, pelo menos, eficiente. Mas como apanhador de canções... Não é que, uma semana depois, sequer classifiquei o reggae “Amazônia” no Festival Universitário da UFMS? Eram apenas 72 músicas para classificar 22...
10/11/2005









Autor: William Menkes
Título: Sol
Material utilizado: Massa PVA Acrílica e tinta a óleo
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 50 cm x 30 cm
Acervo: Eliana da Silva Franco

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A CASA DE NINGUÉM







Poema denso, frio, tenso, comprido
lembrando o frágil mato que persiste:
a casa do animal desconhecido.

Porque mora, porque ainda resiste
nessa vegetação seca, tão pouca?
Como pode viver assim, tão triste?

Bicho desconhecido... Casa tosca.
Desconhecida está sua morada 
nos capinzais da varejeira mosca.

Mas ela existe... nem que disfarçada
nos olhos vesgos desse estranho inseto,
em mosaico, por si multiplicada.

São poucos benfeitores, arquitetos
que, fecundos, a vêem. Somos, no fundo,
todos demolidores.... tão concretos!

Casa invisível... tosca... submundo...
animais transparentes... mentes foscas... 
A casa é de ninguém? De  todo mundo!


Do livro A Casa dos Animais 

(Paulo Robson de Souza, OAK, 2000)


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A CASA DE TODOS





A casa
se faz
ao vento...
Acaso.

Há casa?

Abrigo,
onde uma pré-história é contada
à luz da fogueira que em pó se arqueologizou.

Uma velha casa de arenito no vale do rio
Negro.
Uma toca...
um lar!




Sítio arquelógico "Córrego das Furnas I", município de Rio Negro (MS), abrigo de arenito cuja abertura 
mede aproximadamente 30 m. Feitas com óxido de ferro há dois ou três mil anos (Martins e 
Kachimoto, 1999, em comunicação pessoal), as figuras medem aproximadamente um metro de 
comprimento e podem representar aves da região. Seriam os primeiros tuiuiús 
a serem pintados no mundo?


Do livro A Casa dos Animais (Paulo Robson de Souza, OAK, 2000)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

OS REIS DO PEDAÇO




Para Rubem Alves



Era uma manhã das de sempre
num capão do Pantanal
ou talvez na Bodoquena...
– não, não sei bem o local.
Era uma manhã confusa:
meio rara, algo banal.

O sol se partia em mil
nas gotas frescas do orvalho
as árvores bocejavam
balançando os longos galhos
a taboquinha era flauta
e os grilos eram chocalho.

Era farta primavera:
abelhas pra todo lado,
frutos davam a sua carne,
flores jorravam melado...
Troncos cuspiam filhotes:
patinhos pretos, dourados.


Como diria o Chicó
que mora dentro de mim,

não sei bem como é que foi,
eu só sei que foi assim

que o Caburé exclamou
dentro de um alto angelim:


– Ai, que bom espreguiçar,
sestear depois que caço...
Morar numa cobertura
de um tronco, ser um ricaço...
Como é bom, mesmo miudinho,
ser o tal... rei do pedaço.

O Falcão-peregrino retrucou:

Eu sou o dono do pedaço!
Fora! Xô, seu... pigmeu.
Sou letrado, caburé,
no continente europeu.
Olhe bem pras minha garras...
repare que o rei sou eu.

Entra o Pica-pau-rei:

– Eu também tenho direito
sobre essa tosca madeira
pois cheguei aqui primeiro.
Não estou pra brincadeira.
Se vocês quiserem briga,
eu derrubo a mata inteira!


–  Quando nem buraco havia
comecei a trabalhar
nessa vil madeira morta
para o oco iniciar.
Sou do desenho animado,
mereço me instalar.


– Eu tenho um bico alvinegro,
a mais vermelha das penas,
lindos olhos, asas verdes...
Sou artista de cinema!
O buraco é meu, pois sou
a dona da Bodoquena.


– E daí, qual é o problema?
Parem de falar besteira.
Sou a maior e a mais linda
das araras brasileiras.
Trago o azul do mar nas penas
e o sol nas minhas olheiras.


– “Peraí”, gente. Qual é?
Esse oco é meu. Tem mais:
antes de 1500
já era o rei dos quintais.
Além disso, eu sou cantiga
do Vinícius de Moraes.


– Alto lá! Êpa! Tem gente!
Eu reformei este ninho.
Botei fora o caburé.
Enxotei o gaviãozinho.
Daqui não saio. Reparem
que eu sou um nobre vizinho.


– Cal-cal-calma lá! Nesse oco
botarei meus dois ovinhos.
Afinal, tenho olhos verdes
neste rosto tão branquinho...
Trago o azul, tenho o dourado
da Seleção Canarinho.


– Chega pra lá, sua amarela!
Cruza de águia! Monstrengo!
Esse oco é meu! Só meu.
Chega de história e de dengo.
Sou o rei dos céus. Mereço
pois sou forte, sou Flamengo.


– Sou o dono do buraco
meu povo amado, minha gente,
pois sou bom de bico, e até
ao comer, planto as  sementes.
Não bastasse isso, inda sou
amigo de ex-presidente.



O urutau que a tudo via
com sua sábia paciência
gritou para a bicharada:
– Que falta de complacência.
Há lugar pra todo mundo
quando se tem consciência!

Com seus olhos semi-abertos
para a luz, bico empinado,
Urutau falou, de um galho,
dormindo meio acordado:
– Essa briga é porque o mundo
está desorganizado.

– Cada qual com seu papel!
Todos têm o seu valor!
Todos são nobres e sábios.
É bonita toda cor!
Não existe tolerância
quando não existe amor.

– Organizando a bagunça:
buriti pra canindé,
pro pica-pau: bocaiuva;
angico pro caburé.
E pra grande araraúna,
manduvi será chalé.

– E se o tronco for o mesmo
disputado por vocês
numa mesma primavera,
é preciso sensatez.
Se não chegou a sua hora,
então, que espere a sua vez.

– Ou então, façam o seguinte:
quando o tempo for passando,
de pata em pata – ou de bico –,
que o ninho vá se moldando
segundo a necessidade,
de acordo com seu tamanho:

– Vem, primeiro, o pica-pau;
em seguida o tronco ampara
a nobre maracanã...
Tantos caberão, tomara:
o tucano, o urubu
e, por fim, a grande arara.

– Vamos combinar uma coisa?
Façam a reprodução
em períodos separados,
com farta alimentação...
Cada qual no próprio tempo...
Troncos à disposição.

Em meio a tantos doutores
de olhos grandes, acurados,
foi o urutau quem viu,
estando de olhos fechados:
– Há lugar pra todo mundo
num mundo civilizado!

– Discriminar é julgar,
antes que o tempo revele,
a história de cada um
e a cultura que se expele.
Não se conhece por fora
o que está dentro da pele.

– Há lugar pra todo mundo:
branco, preto, azul, dourado...
Sempre haverá um cantinho
no ambiente equilibrado.
Há lugar quando, pra todos,
direitos são respeitados.

Vendo, enfim, que a boba briga
encontrou um bom final,
o tal “pássaro-fantasma”
dos índios, o urutau,
voltou a dormir, esguio,
disfarçando-se de...
        pau.


•  •  •


Como diria o Chicó
que mora dentro de mim,
não sei bem como é que foi,
eu só sei que foi assim
que uma corriqueira história
encontrou seu próprio
                                                        fim.


Os Reis do Pedaço - Detalhe de aquarela de Ligia Zeolla Vieira

______________

Notas: 

Clique no nome da ave para obter informações sobre sua biologia diretamente do WikiAves (inclusive fotos e sons).

Cordel originalmente publicado no livro Poesia Animal (2003), com Sidnei Olivio 


Apresentado em 13 escolas de Campo Grande por atores amadores (alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Artes e Pedagogia/UFMS, sob direção de Paulo Paes), dentro do projeto A Poesia É animal na Rede Estadual! (2004),  realizado com apoio do FIC/MS.

Excertos publicados na Ciência Hoje das Crianças, n°  214 (especial Biodiversidade), julho de 2010. Ilustrações de Rogério Coelho.