Cansei de argumentos.
Na verborragia,
em busca de entendimento,
com razão:
o oponente nunca tem razão.
(19/6)
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A lagarta sofre de discriminação. Já a borboleta – o despertar do seu sonho – é animal de cor (como diria minha tia racista, que deus a tenha!).
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Sapos vivem do benefício da dúvida.
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Gambás e mordomos vivem levando a culpa.
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Serpentes têm os olhos na barriga. Nenhuma presa, quando presa, é páreo para as suas possibilidades.
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Expectativa é a mãe da decepção. Pessoas que tem as duas sofrem de ausência. Na primeira, ausência de acontecimentos. Na segunda, os desfechos são como churrasco sem sal.
(14/8)
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Hoje eu e Marco fizemos um xote. Como da outra vez (A Marchinha do Pinguim), saiu a fórceps para cumprir prazo, embora a letra estivesse pronta há semanas. Pressão para mim é mais que uma grandeza física. É vetor de inspiração: acuada, minha sensibilidade secreta imprevistos. Acho que é para arrefecer, evitar o infarto.
(15/ 8)
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Ando tão descrente que desconfio até do meu sorriso.
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Minha colega quase enfartou. Não bebe, não faz farra, não come carne... Econômica até nas palavras, soube de terceiros que o problema é sobrecarga de trabalho. Inevitável aquele desabafo infantil “dane-se, me dê aqui essa picanha gorda. Amanhã não vou trabalhar mesmo...”.
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Eu e minhas 40 companhias invisíveis temos conversado frivolidades. Pelo pouco que pude perceber, deduzo que só humanos dão-se ao prazer da filosofia. Precisam disso.
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Pior que telefone mudo é falar com uma pessoa totalmente afônica do outro lado da linha.
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Tenho escrito muito pouco e, pior, muito mal. Se for culpa da secura do mês de agosto neste cerrado, anseio desesperadamente por torrenciais. Que todo o meu quintal seja alagado, oh céus, mas não me deixem faltar o pão da palavra escrita.
(17/8)
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Hoje, fim de agosto, relendo a bobagem que escrevi acima e lembrando-me das trovas que fiz para Margaret Mee (publicáveis com certeza), de-fi-ni-tivamente repulso as crendices sobre os desgostos próprios deste mês. Um dia hei de recortar e pesar as más notícias impressas em jornais dos últimos 10 anos e provarei – cientificamente – que não há mês ruim, mas predisposições ao prejulgamento, cacete.
(31/8)
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Foi um poeta idiota quem disse: sonho bom é sonhar junto. Minha prática tem contrariado essa sensibilidade.
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Seu Mauricio Tibana foi um dos mais importantes encaminhadores da minha vida. Inda iniciante no ofício, pegou a minha mão e disse: é assim que se escreve com a luz!
(6/10)
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Faltam 31 dias para eu conseguir o meu intento: provar nada para ninguém. Creio que isso é o cúmulo da teimosia.
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A partir de amanhã começarei a contagem regressiva. Foi bom, foi ótimo, acho que conseguirei 365 dias de escritos ― são mais pré-textos. Não sei de onde retirarei forças, mas acho que conseguirei.
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Meu amigo Sidnei terá uma surpresa singela dentro de 15 dias. Aprontamento meu e da Nice. Adoro quando o Paulinho de Dona Santa entra em ação. Ele é moleque; eu, nem tanto quanto gostaria.
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De tão cansado, ando lambendo paredes à procura de portas. Onde estarão meus horizontes?
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Nisso é que dá ser esquecido. Onde foi parar o tema sobre animais asquerosos, caramba? A frase “os textículos estão logo ali na primeira linha” significa quase seis meses de embromação. Mais demorado que digestão de sucuri na caatinga; mais enrolado que lombriga em intestino de tubarão. Mais digressivo que bando de macaco depois de quebrar a cumbuca ― aliás, nunca vi uma cumbuca!
(30/11)
(Das agendas de 2005)