segunda-feira, 28 de novembro de 2016

NECESSIDADES



Água quando se tem sede. Cama para quem se esgotou ou quer esquecer. Um pão dormido basta para a profunda fome. Na solidão, mãos.

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Os rituais matutinos. Não consigo me desprender deles. É como estar dormindo sentado, se eu acordar e não praticá-los. Primeiro o banho, a barba, algum exercício fuleiro no banheiro para aprumar a coluna; depois o preparo do café, os cuidados com os cães, e beijo de despedida e a solidão das paredes...
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Janelas emolduram oportunidades, disse mais ou menos assim outro dia. São saídas mais que entrada de luz e de ar e de canto de pássaros. Janelas são as narinas das residências. Pontos de escape de pontos de vista.


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A geladeira não é somente um item para conservar alimentos. É mais um divã na vertical, onde deitamos os olhos em busca de conselhos que aplaquem nossas angústias e ansiedades.

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O sexo é uma necessidade cromossômica.

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Em busca de orifícios, o gênero masculino segue a retidão. E parece que quanto maior a retidão, maior a necessidade.

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Algumas pessoas pintam os cabelos. Outras os descolorem e chamam isto de “luzes”. Umas passam titica de galinha na careca, para adubar os folículos mais mortos que múmia chinchorra. Outras extraem os pelos, um por um. Há as que se beijam no espelho, enquanto outras nem passam perto dele, para não esquecerem a imagem viçosa da juventude. Umas gostam de ver, outras de serem vistas – nuas. Há o caso famoso do nanico ditador que usa sapatos com plataforma maior que a própria tíbia; enquanto uma amiga grandona – juro que é verdade – há anos usa rasteirinha porque ouviu de uma colega (certamente baixinha!) que sua estatura era impositiva. Já o meu pai, seu Jaime, penteia os bigodes e planta bananeira na praia desde muito antes do nascimento dos netos.
Algumas dessas necessidades me cabem bem. Mas o que não consigo entender é a necessidade que algumas pessoas têm de contar dinheiro em público, uma espécie de exibicionismo “financial”, em vez de sexual. Parece que o poder de compra as fazem maiores, sei lá...


Paulo Robson de Souza
26.11.2014

Da série Poesia Todo Dia

domingo, 20 de novembro de 2016

ACADÊMICOS UNIDOS DO RIO (Samba da Piranha)

Autores: Marco Antonio Carstens Mendonça / Paulo Robson de Souza 
Intérprete: Áttila Gomes


(Clique na imagem  para ouvir)






(com CD encartado), 2011

(capa aberta)

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Acadêmicos Unidos do Rio
               (samba da piranha)

Música: Marco Antonio Carstens Mendonça
Letra: Paulo Robson de Souza




Eu não sou feroz assim.
Eu só dou umas mordidinhas.
Não me culpe se outras mil
têm essa mania minha.
Não sou tão feroz assim, viu?
Eu só dou umas mordidinhas. 
E além disso, meu compadre,
era a vaca mais fraquinha...

Eu não quero mais sofrer,
não pretendo lamentar.
Tenho que me abastecer,
sem remorso me fartar.
Chega de tanto blá-blá,
de ter fama de vilão,
porque tudo o que eu faço
é comer o meu pirão.

Eu não sou feroz assim...

Essa tal ferocidade
que dizem que eu devo ter, 
na verdade, é uma vontade
coletiva de comer.
São milhares de mordidas
para a vaca se acabar
– pouco importa essa má fama,
deixa o povo acreditar... 


Eu não sou feroz assim...