Perdi meu celular em uma
expedição à Serra da Bodoquena. Perda besta, esta: sucedeu dentro da casa onde
ficamos, um bangalô sem luxo e lixo, água e energia elétrica, construído sobre
um lajedo de calcário no meio do mato – legítimo cafundó bucólico, a cara do
“Mariscal” Rogério e do seu autodenominado “Exército de Libertação da
Natureza”, eu incluso.
Nada grave, perder um bem
material. Mas o que havia dentro dele não tem preço. É que, por preguiça de
transcrever a surrada caderneta de campo, nessas horas uso o editor de texto do
aparelhinho-sem-noção para escrever poemas. Perdi três poemas! O último, feito
na velha rede da varanda, logo após acordar. Falava de sono e de um sonho
esquisito que tive com alguém que me enterrara vivo, e da impropriedade e
imprecisão da palavra escrita nessa hora de bocejos e olhos inchados. Lembro-me
vagamente do tema e do jeito amalucado e inconsciente dos versos, e só. Jamais
conseguirei reproduzi-lo. Aliás, acho que foi nesse momento de extrema sonolência que guardei o
aparelho em uma das mochilas dos colegas – todas pretas e surradas como a minha
–, ou o esqueci sobre a mesa. Pior a segunda opção, pois na tarde daquele dia
macacos-prego assaltaram nosso QG, enquanto saímos mata afora à procura de
bichinhos sem vértebras para lhes dar um nome e uma história.
Assalto descarado: levaram
minhas preciosas bananas, derramaram o óleo de cozinha e cagaram sobre a mesa.
Se levaram meu desinteressante celular, só o tempo e o Facebook dirão. (Se alguém
vir um selfie de um macaco da Bodoquena com cara de “enganei o bobo”, favor
avisar a este soldado abestalhado.)
Paulo Robson de Souza
5.10.2014