sexta-feira, 31 de julho de 2015

REVISITANDO O CHACO





O Chaco me traz
suspiros.
Cada esquina um feito.


De vespas
o cacto
me ensina.


A portulacácea
me sorri.


Formigas cortadeiras
de folhas
agarram vespas
na improbabilidade.


Arilo doce
veste a semente
de algarobo
o gosto do jatobá.
Paulo Robson de Souza
14.11.2014
(da série Poesia Todo Dia)

Vagens maduras do algarobo (Prosopis ruscifolia). Arilo comestível, como o do ingá.


#Chaco
#ChacoBrasileiro

DINO

Para Rogério Silvestre



A formiga primitiva me reencontra

No Canaã, assentamento com cara de promessa.

Desde o tempo dos dinossauros faz isto

E tanto mais que não consegui apreender.


Aprendiz de formigas sou.
Paulo Robson de Souza
6.11.2014
(da série Poesia Todo Dia)
Dinoponera autralis

sexta-feira, 24 de julho de 2015

CANTIGA PARA MANOEL




Passarinho voou voou voou

Foi para o ninho da palma

Da mão do nosso senhor.

Passarinho Manoel well well

Voou pro céu

Levando lápis e papel.

Paulo Robson de Souza
13.11.2014
(da série Poesia Todo Dia)

CANTIGA PARA MANOEL




Passarinho voou voou voou

Foi para o ninho da palma

Da mão do nosso senhor.

Passarinho Manoel well well

Voou pro céu

Levando lápis e papel.

Paulo Robson de Souza
13.11.2014
(da série Poesia Todo Dia)

MIMO DO CÉU



Para Daniela Zappi




Mimo-do-céu é do céu
Bandeja exalando anil
Mimo de seda-papel
Todo mês, primaveril.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

AQUÁRIO


 

Janela d'água
Espelhos d'água
Cores d'água, formas, fluxos, comportamentos, a pedra e o gás.
Seres de se mirar. 
Natureza contida.

 

Paulo Robson de Souza
3.1.2014

(Da série Poesia Todo Dia)






 

CHUVA DE FÓTONS





A luz do sol desta manhã

Promete dádivas imateriais:

O despertar de olhos

Cansados

Da estupidez alheia,

Quiçá novas descobertas – motivo de se caminhar.

 

Paradoxo:

Os fótons que lumiam,

Também

Acariciam a pele – toques invisíveis do quantum (que) nos faz ver.



Paradoxo 2:

O rastro da luz

É a ausência de luz

Na melanina.


 
Paulo Robson de Souza
10.1.2014
(Da série Poesia Todo Dia)
 


sexta-feira, 10 de julho de 2015

O METABOLISMO DAS COISAS


Nas manhãs douradas
o metabolismo das paredes
é retomado ao extremo.
Paredes nuas, então, ficam loucas
na sofreguidão.


Paulo Robson de Souza
13.3.2014
Da série Poesia Todo Dia

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O METABOLISMO DAS COISAS II




Nas manhãs douradas, não somente plantas, mas todo tipo de coisa traga o sol. Roupas pretas e calçadas basálticas têm predileção por raios do meio-dia, por serem mais incidentes. Hora boa para comer, diria a mesa iluminada do restaurante pelotense charmoso que tem janelas rústicas no teto.


Paulo Robson de Souza
14.3.2014
(Da série Poesia Todo Dia)




MACACOS ME MORDAM


 

Perdi meu celular em uma expedição à Serra da Bodoquena. Perda besta, esta: sucedeu dentro da casa onde ficamos, um bangalô sem luxo e lixo, água e energia elétrica, construído sobre um lajedo de calcário no meio do mato – legítimo cafundó bucólico, a cara do “Mariscal” Rogério e do seu autodenominado “Exército de Libertação da Natureza”, eu incluso.

Nada grave, perder um bem material. Mas o que havia dentro dele não tem preço. É que, por preguiça de transcrever a surrada caderneta de campo, nessas horas uso o editor de texto do aparelhinho-sem-noção para escrever poemas. Perdi três poemas! O último, feito na velha rede da varanda, logo após acordar. Falava de sono e de um sonho esquisito que tive com alguém que me enterrara vivo, e da impropriedade e imprecisão da palavra escrita nessa hora de bocejos e olhos inchados. Lembro-me vagamente do tema e do jeito amalucado e inconsciente dos versos, e só. Jamais conseguirei reproduzi-lo. Aliás, acho que foi nesse momento de extrema sonolência que guardei o aparelho em uma das mochilas dos colegas – todas pretas e surradas como a minha –, ou o esqueci sobre a mesa. Pior a segunda opção, pois na tarde daquele dia macacos-prego assaltaram nosso QG, enquanto saímos mata afora à procura de bichinhos sem vértebras para lhes dar um nome e uma história.

Assalto descarado: levaram minhas preciosas bananas, derramaram o óleo de cozinha e cagaram sobre a mesa. Se levaram meu desinteressante celular, só o tempo e o Facebook dirão. (Se alguém vir um selfie de um macaco da Bodoquena com cara de “enganei o bobo”, favor avisar a este soldado abestalhado.)
Paulo Robson de Souza
5.10.2014
(Da série Poesia Todo Dia)
 
 
 


quinta-feira, 2 de julho de 2015

HYMENOPTERA




Vespas, abelhas, bichinhos do mel
E do ferrão
E das asas finas, quase seda,
E das vidas múltiplas
Funções múltiplas
Fazedores do vinho e do pão
Ao seu modo de agir, de polinizar.

Paulo Robson de Souza
16.1.14
Da série Poesia Todo Dia

HYMENOPTERA III




Abelhas, vespas, formigas e afins
São agrupadas pelo aspecto das asas,
Finas e delicadas feito hímen,
Dizem (do hímen).
 
Aos incautos é bom lembrar:
Formigas determinadas à reprodução
São aladas: tanajuras e bitus – tadinhas, sofreram em minhas mãos de criança.
 
Paulo Robson de Souza
21.1.14
Da série Poesia Todo Dia
Operária de Odontomachus ataca um bitu, macho alado da formiga cortadeira (Atta spp.)


HYMENOPTERA II




A massa que não se percebe.
O trabalho quase invisível.
A evolução de um jeito de viver, eussocial (o verdadeiro).
Toda uma China de anônimos, cem mil vezes mais – ou bem mais.
Formigas.

 
Paulo Robson de Souza
20.1.14
Da série Poesia Todo Dia