segunda-feira, 17 de julho de 2017

É E NÃO É



No Pantanal certas vidas
lembram coisas de comida.
Dá vontade de brincar,
as palavras cozinhar...

fazer uma sopa de nomes
um jogo do que “se come”,

exercitar a lembrança,
olhar a vida com a pança.


Pau-d’alho lembra tempero.
Salsaparrilha também?
Louro-preto: flores brancas
que temperam o ar... mazém?

A baía é uma sopa só:
no raso tem cebolinhas.
Tem lentilha, alface d’água,
batata d’água, salsinha...

E, bem longe do Urucum,
não achei sal na salina.
Suei, no Morro do Azeite,
pra fritar minha corvina!

São plantas que dão “comida”:
pata-de-vaca, faveiro,
assa-peixe, canjiqueira,
farinha-seca, leiteiro.

Bichos com nome gostoso:
palmito, peixe-banana,
tem também a rã-pimenta
e o araçari-banana.

A pimenta-de-macaco
tem, no fruto, pó-de-mico?
E a linda rã-pimenta,
canta os versos que fabrico?

E assim, nessa brincadeira
do que é do mato e da feira,

reconstruindo o poema,
tendo os seres como tema,

acrescente novos nomes
de tudo que não se come
mas entra no cozinhar...


para o jogo continuar...


               Paulo Robson de Souza
               2001, O Livro dos Jogos (inédito)

Nenhum comentário:

Postar um comentário