terça-feira, 26 de março de 2013

PÁSCOA




O velho procurou o menino
na dureza opaca do cristalino
dos seus olhos secos
de tanta aspereza.

E vendo que  assim não o encontrava, chorou.

E assim, chorando
molhou o torrão que habitava os seus olhos
e viu nascer em si
um menino.



E foi do barro que criou o homem
que o velho criou o menino

e o alimentou
com a esperança de quem busca laçar manhãs
todas as manhãs
 e colher pores-do-sol todas as tardes
ainda que chuvosas.

E lhe deu de beber
com a água que se esconde
nos subterrâneos de todos os desertos.

E o velho moço quando viu, chorou outro choro.


(abril de 1995)

3 comentários:

  1. Lindíssimo, perfeito esse poema. Também gostei muito, Paulo, da descrição do caçuá. Um beijo, menino!!!

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  2. Shirley, minha querida poeta!!! Que alegria "vê-la" aqui.
    Estou sempre lendo suas publicações - mas comodamente, pelo meu email (chegam todas as atualizações). A última eu levei um susto, com aquele final cortante.
    Muito bom mesmo aquele poema.
    Beijos!

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