terça-feira, 28 de outubro de 2014

C’EST LA VIE, ALINE BRUN


Cinquentenário que sou, é chegado o tempo de perder, numa frequência maior, os amigos bem, bem mais velhos, e os velhos amigos, os ídolos de infância e os sábios e poetas que me fortalecem. Sombras boas que se vão. Cada mês que passa, quase sempre, depois desse “dobrar o Cabo da Boa Esperança”, chega-me a notícia de uma flor que se fecha nos campos do Senhor, como diriam os eufemistas. Mas para este velho professor, o nome disso é morte mesmo, m-o-r-t-e, a indescritível sensação de falência da matéria que nos sustenta e que todos teremos ou vivenciaremos qualquer dia desses. Aliás, “vivenciaremos” é jeito espontâneo de dizer, pois essa dolorosa experiência mais parece o contrário disso.

Contrariando essa lógica, ontem morreu uma querida aluna de biologia dos anos 90, Aline Brun, que há muito não via.  Quando é assim, morrer alguém bem mais jovem que a gente, a vida explodindo de alegria ao se manifestar dentro de um sorriso constante e que deixa marcas (nunca a vi triste!), a tal sensação que derrete o chumbo do nosso coração é bem mais dolorosa. É uma ausência cheia de incredulidade, porque parece contrariar a ordem natural do nascer, crescer, senescer... Porque morre uma arvoreta, alguém que mal deu as primeiras flores, que não teve tempo de semear, por esses campos do Senhor, todo o punhado de bonanças que trazia...
Ainda bem que, para os espécimes de boa-fé, esperançosos e determinados como Aline, basta-lhes deixar única semente para vicejarem florestas.

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