Cinquentenário que sou, é chegado o tempo de perder, numa
frequência maior, os amigos bem, bem mais velhos, e os velhos amigos, os ídolos
de infância e os sábios e poetas que me fortalecem. Sombras boas que se vão. Cada
mês que passa, quase sempre, depois desse “dobrar o Cabo da Boa Esperança”, chega-me
a notícia de uma flor que se fecha nos campos do Senhor, como diriam os
eufemistas. Mas para este velho professor, o nome disso é morte mesmo, m-o-r-t-e,
a indescritível sensação de falência da matéria que nos sustenta e que todos
teremos ou vivenciaremos qualquer dia desses. Aliás, “vivenciaremos” é jeito espontâneo
de dizer, pois essa dolorosa experiência mais parece o contrário disso.
Contrariando essa lógica, ontem morreu uma querida aluna de
biologia dos anos 90, Aline Brun, que há muito não via. Quando é assim, morrer alguém bem mais jovem
que a gente, a vida explodindo de alegria ao se manifestar dentro de um sorriso
constante e que deixa marcas (nunca a vi triste!), a tal sensação que derrete o
chumbo do nosso coração é bem mais dolorosa. É uma ausência cheia de
incredulidade, porque parece contrariar a ordem natural do nascer, crescer, senescer...
Porque morre uma arvoreta, alguém que mal deu as primeiras flores, que não teve
tempo de semear, por esses campos do Senhor, todo o punhado de bonanças que
trazia...
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