domingo, 11 de março de 2012

MICROS


 Para Elke Bran Nogueira Cardoso


Cianas bactérias pastam
o nitrogênio inerte
nos poros ― frestas de solo.

* * *

Bom mesmo é ser quimio-
 sintética bactéria
que tira leite de pedra ― sempre.

* * *

No seio do folíolo da azola,
entre falenas,
dorme a anabena.

* * *

Raiz e fungo, micorrizando,
mutuamente se devoram e se nutrem
― relação íntima.

* * *

Esporos são bactérias
dormindo em berço esplêndido
de cristal.

* * *

Cocos em cacho de uva.
Anomalia semântica ou acento agudo disfarçado?
Mania estafilítica.

* * *

A solução está na raiz:
no feijão,
vagarosos rizóbios constroem possibilidades.
Raiz redonda.

* * *



Quando a chuva acaricia o solo,
cogumelos erigem
das hifas excitadas.


(março de 2005)

3 comentários:

  1. Grande PAulinho, poesia se extrai do quase invisível. Gostei demais. Sei que estou em falta contigo, mas ando enrolado até às tampas. Abração.

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  2. Compadrecito Paulo, poeta dos bons:
    Acho-os seus poemas saborosíssimos, mesmo sendo sobre formas primitivas e unicelulares de Vida. Escorrem e lambuzam a cara de nossa alma, feito aquela manga bem madura, doce, doce, que deixa fiapos na nossa pele, língua e dentes. E eu adoro mangas, pequenos sóis verdes e amarelos, pendurados em forma de coração, desafiando a infância guardada pelas sombras das mangueiras. Abração, Sylvia Cesco

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  3. Paulinho, parabéns... como sempre, lindo!

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