quinta-feira, 9 de julho de 2015

MACACOS ME MORDAM


 

Perdi meu celular em uma expedição à Serra da Bodoquena. Perda besta, esta: sucedeu dentro da casa onde ficamos, um bangalô sem luxo e lixo, água e energia elétrica, construído sobre um lajedo de calcário no meio do mato – legítimo cafundó bucólico, a cara do “Mariscal” Rogério e do seu autodenominado “Exército de Libertação da Natureza”, eu incluso.

Nada grave, perder um bem material. Mas o que havia dentro dele não tem preço. É que, por preguiça de transcrever a surrada caderneta de campo, nessas horas uso o editor de texto do aparelhinho-sem-noção para escrever poemas. Perdi três poemas! O último, feito na velha rede da varanda, logo após acordar. Falava de sono e de um sonho esquisito que tive com alguém que me enterrara vivo, e da impropriedade e imprecisão da palavra escrita nessa hora de bocejos e olhos inchados. Lembro-me vagamente do tema e do jeito amalucado e inconsciente dos versos, e só. Jamais conseguirei reproduzi-lo. Aliás, acho que foi nesse momento de extrema sonolência que guardei o aparelho em uma das mochilas dos colegas – todas pretas e surradas como a minha –, ou o esqueci sobre a mesa. Pior a segunda opção, pois na tarde daquele dia macacos-prego assaltaram nosso QG, enquanto saímos mata afora à procura de bichinhos sem vértebras para lhes dar um nome e uma história.

Assalto descarado: levaram minhas preciosas bananas, derramaram o óleo de cozinha e cagaram sobre a mesa. Se levaram meu desinteressante celular, só o tempo e o Facebook dirão. (Se alguém vir um selfie de um macaco da Bodoquena com cara de “enganei o bobo”, favor avisar a este soldado abestalhado.)
Paulo Robson de Souza
5.10.2014
(Da série Poesia Todo Dia)
 
 
 


7 comentários: