sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

JOIAS VEGETAIS



Xote dedicado à professora Tereza Cristina Stocco Pagotto


É só saber
verificar
que muitas joias nascem em tosco lugar.

Repare que
fenomenal:
joias florescem em todo o Reino Vegetal.

Eu nunca vi tanta beleza numa orquídea
que se lapida com a umidade e pouco sol
e a caliandra escondidinha no cerrado
é um sol avermelhado como brincos de farol.

Quanta beleza vi na tal da “langsdórfia” —
flores que crescem das raízes de outro ser —
As flores fêmeas são um brinco encarnado,
tão bonito feito o macho, rente ao chão no entardecer.


Na lama podre, quem diria, há outra joia
de “pelos” rubros, que cativam o animal.
É a linda drósera que lembra uma tiara
dessas ditas joias raras que florescem no coval.

As açucenas são tão brancas e cheirosas —
dentro do brejo nasce o fofo tegumento...
Tão puras jóias certamente deveriam
enfeitar, encher de glória o mais fino casamento.

Em meio à galharia torta do Cerrado
nasce uma beleza de pendão, um castiçal
de prata pura com milhares de florzinhas...
É o tal do “pepalântus” enfeitando o capinzal.

Eu nunca vi tanta beleza reunida
num só lugar a diversidade se estica:
são tantas cores, tantas formas, tantas joias —
acho que por isso chamam a região de Costa Rica.

Sucuriú é um colar, um fio de prata
com mil brilhantes a brotar dos paredões.
Um rio que guarda um montão de contas verdes
num lugar desconhecido e conhecido por Bolsão.

(2004)

3 comentários:

  1. Esse xote nordestino faz referência à flora do município de Costa Rica e região nordeste de Mato Grosso do Sul, inventariada em 2004 pela equipe do Projeto Jauru (UFMS/Probio) sob a coordenação da botânica Tereza Cristina Pagotto. Para caracterização das plantas citadas, pesquisar pelos nomes científicos: Drosera spp. (uma pequena carnívora de solos brejosos), Langsdorffia hypogaea (que tem uma flor masculina e outra feminina e, não possuindo clorofila, parasita raízes), Paepalanthus giganteus, Calliandra spp. e similares. Coval: nome da principal vereda da região, onde nasce o rio Sucuriú (aparentemente uma derivação do termo covoá). Saiba mais consultando o livro Biodiversidade do Complexo Aporé-Sucuriú (Editora UFMS/Probio,2006) um dos produtos desse projeto:
    http://www.dbi.ufms.br/~paulorobson/producao/producaoacademica/Biodiversidade_do_Complexo_Apore-Sucuriu.pdf

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  2. Paulo. Fiquei muito feliz de ver o "xote" que você fez colocado no seu blog. Lembrei-me de nossa viagem e dos momentos e belezas que vimos juntos, no campo e de quando voce disse para mim pela primeira vez as "Joias Vegetais".

    Bons tempos quando trabalhamos juntos. Tenho saudade. Mas uma vez, obrigada.

    Abçs.
    Teresa Cristina

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    1. Poxa Teresa Cristina, voce sabe o quanto o projeto "Jauru" (Aporé-Sucuriú) foi importante.

      Eu é que agradeço, dessa vez publicamente, pela grande oportunidade que tive de conhecer o Cerrado - como sabe, foi meu primeiro trabalho na área.

      Paulo Freire fala que o verdadeiro aprendizado, em síntese, traduz-se em uma profunda mudança na visão de mundo. Pois é! Até hoje trago nos olhos as lições que o cerrado do nordeste do MS me proporcionou...

      Grande abraço.

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