Na minha infância recitávamos, batendo palmas ou os pés, os versos “hoje é domingo / pede cachimbo / o cachimbo é de ouro / que deu no besouro (...)”. Hoje eu sei: é uma parlenda! Essa que aprendi é mais uma das inúmeras versões de uma das mais conhecidas parlendas da nossa tradição oral – aliás, eu entendia “pé de cachimbo”, e ficava pensando como deveria ser um pé dessa coisa...
Mas, o que é parlenda? A Wikipedia, citando Jacqueline Heylen (1991, op. cit.), afirma que é uma forma literária tradicional curta e de ritmo fácil, usada nas brincadeiras populares infantis. Geralmente, é formada de um arranjo de palavras sem acompanhamento de melodia, mas às vezes com versos rimados, obedecendo a um ritmo que a própria metrificação lhe empresta. A finalidade é entreter a criança, ensinando-lhe algo, informa a enciclopédia.
De fato, parlendas não são cantadas, mas declamadas, tendo por base a acentuação verbal, a tônica das palavras no meio dos versos e a tônica das rimas. Esse ritmo imposto pelas sílabas tônicas é facilmente percebido batendo-se palmas enquanto os versos são recitados. No exemplo, há duas sílabas tônicas em cada verso, aqui grifadas:
hoje é domingo
pede cachimbo
o cachimbo é de ouro
que deu no besouro
Segundo Lúcia Gaspar (2010), bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco, parlendas diferem dos acalantos, que são cantigas para fazer criança dormir; dos jogos, em que há sempre disputa e competição; das canções de roda; das adivinhações ou adivinhas (perguntas enigmáticas) e das superstições. As parlendas foram introduzidas no Brasil pelos portugueses – que as chamam de cantilenas ou lenga-lengas –, adquirindo no país roupas e cores novas, mais de acordo com o caráter nacional, conclui.
Bem, chega de lenga-lenga (no sentido positivo e original do termo). Quero mesmo é brincar contigo!
Brincadeira literária – Encontre a ordem correta dos versos da parlenda “Roda Vida”
É simples: abaixo estão os versos de uma parlenda que fiz em 2001, com base em uma pirâmide trófica no Pantanal. Foram propositadamente embaralhados, sendo que, dos 23 versos, 11 foram posicionados corretamente, para facilitar a brincadeira.
Com o mouse, arraste os versos “datilografados” em vermelho, um por um, para qualquer parte da folha de caderno, para que fiquem totalmente legíveis. Em seguida, escolha qualquer um e, apertando o botão esquerdo do mouse, arraste-o para o centro da linha correspondente – para posicioná-lo corretamente, considere quatro aspectos: os versos previamente arranjados (em letras pretas), as rimas, a “historinha” (a lógica da narrativa) e “quem consome quem” na luta pela sobrevivência, inclusive os microrganismos.
Quando o verso for colocado na posição correta, as letras, que eram vermelhas, ficarão pretas, e sua posição não mais poderá ser alterada. Ao fim da brincadeira, o sinal de que a ordem dos versos está correta será o surgimento de uma animação, cuja velocidade e sentido poderão ser controlados com o mouse (desde que com o botão esquerdo apertado). Em síntese, o resultado ilustrará o ciclo da matéria orgânica (neste caso, a direção que o Carbono segue enquanto é transferido, via alimentação, entre os protagonistas da parlenda). Divirta-se, mas não conte para ninguém o resultado!
Ficha técnica desta brincadeira literária
Programação em flash, consultoria: Edy Wilson (projetos TIC Biologia e InterCiências, UFMS)
Coordenação pedagógica: Marilyn Matos (projetos TIC Biologia e InterCiências, UFMS)
Concepção da brincadeira literária e foto (Vênus sobre o Pantanal): Paulo Robson de Souza/UFMS
Coordenação do projeto InterCiências/UFMS: Carla Cardozo Pinto de Arruda (biologia) e Ricardo Ribeiro dos Santos (coordenação geral)
Glossário
Caracará – o mesmo que carcará (NE) ou carancho (Caracara plancus), um gavião oportunista e generalista quanto ao hábito alimentar (alimenta-se até de carniças). Saiba mais em http://www.wikiaves.com.br/caracara
Lobó – o mesmo que traíra (Hoplias malabaricus e outras espécies), peixe carnívoro de médio porte, um predador voraz, comum em lagoas, açudes e rios de praticamente todo o Brasil. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tra%C3%ADra
Pintado – peixe de couro de grande porte (Pseudoplatystoma corruscans), predador voraz de água doce. Sinônimos: surubim-pintado, surubim-caparari, brutelo, caparari, piracajara. Ocorre na Amazônia, no Pantanal/bacia do Alto Paraguai, nas bacias do Prata e do São Francisco. Mais informações em http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintado
Para saber mais
Coletânea de parlendas e quadras populares. Sugestões de parlendas e quadras populares que podem ser trabalhadas na alfabetização inicial como textos memorizados. http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/coletanea-parlendas-quadras-populares-634266.shtml
Ler rima com prazer. Parlendas recitadas na hora do recreio ajudam a alfabetizar em Alagoas, por Denise Pelegrini. Revista Nova Escola. http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/ler-rima-prazer-423613.shtml
Parlenda, riqueza folclórica: base para a educação e iniciação à música. Livro de Jacqueline Heylen, segunda edição, Editora HUCITEC, 1991.
Parlenda, por Lúcia Gaspar (2010) Fundação Joaquim Nabuco. http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=636&Itemid=1
Paulo, você é mesmo incrível, admirável, brilhante, especial. Divulguei no face e vou divulgar entre meus alunos e ex-alunos.
ResponderExcluirbeijos,
Jac
Jacqueline, gratíssimo por toda consideração ao meu trabalho. Como sabe, considero-a uma professora notável! Mais dedicação, impossível.
ExcluirAbraço a você e turma.
Como sempre, brinquei e me diverti.
ResponderExcluirObrigada.
Êta mundo pequeno! Hoje mesmo citei um trecho de uma parlenda no meu blog. Afinal, o que é PACA, TATU, COTIA NÃO? Me explica poeta!
Beijos
Olá Maria Eugênia!!!
ExcluirAntes tarde do que...
Pois é... Continuo sem resposta!! Qual seria a origem dessa brincadeira tão presente nas nossas infâncias?
Sobre o assunto encontrei este texto, de
Tchello d’Barros
http://www.escritoresalagoanos.com.br/texto/91
Abração.
Grato pela atenção.
Paulo, Edy e Marilyn... estou sem palavras!
ResponderExcluirGrato pela atenção, Sandra!
ExcluirAbraço.
Paulo, maravilhoso a sua produção. A sua criatividade é encanto aos olhos de quem aprecia a linguagem e a cultura. Muito bom para as aulas de ciências utilizando a vertente da língua portuguesa. Abs.Setúval
ResponderExcluirOlá Setúval, grato pela consideração e pelas palavras de incentivo.
ExcluirFico muito feliz por apontar essas possibilidades. Acho que, por causa delas, este trabalho é o mais visto no blog.
Abraço.
Incrível. Fiquei até emocionada!
ResponderExcluirJá vou ligar para minha "turminha" de gente grande e indicar a brincadeira super educativa.
Parabéns e obrigada por nos dar a oportunidade de conhecer seu trabalho... suas ideias...
Abraços,
Patrícia Monteiro
Olá Patrícia! Como vai?
ExcluirGratíssimo por indicar este trabalho. Tenho a maior curiosidade de conhecer sua turminha, rever São João del Rey...
Abraço.
:-)
Oi,obrigada! Você tem áudio vídeo desta sua parlenda fantástica? Meu Face: Maria G Machado / Twitter Maria G Machado
ResponderExcluirOlá Maria G. Machado,
ExcluirNão tenho áudio ou vídeo desta parlenda. Mas é uma boa ideia para ser aproveitada futuramente, com sua licença - até porque parlendas são mais gostosas quando ouvidas, não é mesmo?
Há 3 outros vídeos aqui neste blog que as crianças curtem muito. Confira:
http://paulorobsondesouza.blogspot.com/2012/09/frevo-da-capivara.html
http://paulorobsondesouza.blogspot.com.br/2012/10/baiao-do-bicho-desconhecido.html
http://paulorobsondesouza.blogspot.com.br/2012/02/xote-da-salamandra-gigante-com-eduardo.html
Grato.