segunda-feira, 15 de maio de 2017

IMPRESSÕES




Ter a consciência do próprio corpo, de modo tão racional, não é bom pra mente. Não sabê-lo causa menos dor.

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Definitivamente, um abraço é melhor que um amasso. Principalmente um abraço de seis meses de atraso ante o amasso de ontem.

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Não, não é poesia: ouço o meu coração cada vez mais. Coisa de biólogo metido a besta que desenvolveu o sentido de se auto-auscultar. Ou de poeta cansado.

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Pimenta, mesmo no fiofó dos outros, arde meus olhos. Desgraça alheia não tem graça nem rima bem.

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Quando minha amiga nipônica me abraçou hoje, perdi meu oriente.

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Ninguém me contou, nem eu mesmo a mim ― pode isso, Fernando? ―, mas estou desconfiado que a poesia é meu projeto de fuga.

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Devo ter um nervo ligando o queixo diretamente ao estômago, pois a cada soco do dia o reflexo é imediato: da mucosa jorra ácido clorídrico de balde. E, também numa infeliz associação direta, debalde como folhas de boldo.

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De tão estressado, até toque de telefone me embrulha o estômago e para a respiração. Tou pensando em romper ligações. Principalmente com o nervo vago.




6 de junho de 2005
(da série Poesia Todo Dia - sem cortes)


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